‘Sem as COPs, o mundo estaria muito pior’, afirma pesquisador ao avaliar conferência em Belém

Hugo Fernandes aponta ganhos na aprovação rápida da agenda e no número de NDCs entregues, mas cobra maior compromisso com adaptação e financiamento.

Publicado em 14 de novembro de 2025 às 17:13

‘Sem as COPs, o mundo estaria muito pior’, afirma pesquisador ao avaliar conferência em Belém
‘Sem as COPs, o mundo estaria muito pior’, afirma pesquisador ao avaliar conferência em Belém Crédito: Reprodução/Roma News

O quinto dia da COP30 começou com uma das manifestações mais contundentes registradas em Belém desde o início da conferência. Na manhã desta sexta-feira (14), indígenas do povo Munduruku bloquearam a entrada principal da Blue Zone, área restrita a credenciados e onde ocorrem as negociações oficiais, impedindo temporariamente a movimentação de delegações, técnicos e participantes. A Força Nacional foi acionada para dialogar com o grupo e restabelecer o fluxo de entrada e saída.

O ato, considerado pacífico e organizado, reforçou demandas históricas relacionadas à proteção territorial, reconhecimento de direitos e participação efetiva dos povos originários nas decisões climáticas globais. O protesto também ecoou debates em curso na conferência sobre justiça climática e inclusão de comunidades diretamente impactadas pelas mudanças do clima.

Enquanto a movimentação ocorria do lado de fora, o clima entre os negociadores no interior do evento marcou o fim da primeira semana de discussões. Para o professor Hugo Fernandes, da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e diretor da SETEG, o balanço inicial aponta avanços importantes, mas também desafios que precisam ser encarados com urgência.

Segundo ele, a COP30 começou com um ritmo incomum de consenso. “A aprovação rápida da agenda já foi uma vitória. Isso não é trivial em uma COP”, afirmou. O professor destacou ainda a entrega de 111 NDCs, compromissos dos países para enfrentar a crise climática, abrangendo nações responsáveis por 75% das emissões globais. “É um salto expressivo e demonstra disposição internacional para avançar.”

Apesar dos indicadores positivos, Fernandes alerta para entraves nas negociações sobre financiamento climático, especialmente nos fundos destinados à adaptação e resiliência. Países em desenvolvimento cobram maior aporte financeiro das nações mais ricas, enquanto parte delas tenta flexibilizar responsabilidades. “A segunda semana será decisiva para sabermos se esta poderá ser chamada de ‘COP da implementação’”, avaliou.

O professor também comentou as dificuldades relacionadas à infraestrutura da conferência em Belém, incluindo as altas temperaturas sentidas principalmente na área dos pavilhões. Para ele, o desconforto é simbólico: “Discutir a crise climática sob calor extremo, em um país que já sente fortemente os impactos, revela a urgência do tema.”

Sobre protestos e tensões no entorno da COP30, Fernandes diferencia manifestações legítimas, como a dos Munduruku, de ações consideradas violações de segurança. “Movimentos sociais são essenciais e podem influenciar positivamente as negociações quando acolhidos, como vimos hoje. Mas é preciso respeitar os limites de segurança definidos pela ONU para garantir a integridade de todos.”

Ao analisar o alerta recente do climatologista Carlos Nobre, que reforçou o risco de alta nas temperaturas globais caso medidas não sejam aplicadas imediatamente, Fernandes reforçou a importância das conferências multilaterais. Ele lembrou que, antes do Acordo de Paris, as projeções indicavam um aquecimento de até 6ºC. Agora, variam entre 2,4ºC e 2,8ºC. “Ainda é ruim, mas sem as COPs, o cenário seria muito pior. Criticar faz parte, mas defender o multilateralismo climático é essencial.”