5 dicas práticas para cuidar da saúde mental

Além da terapia, que deve ser buscada sempre que possível, há atitudes simples e cotidianas que têm efeito terapêutico

Publicado em 5 de maio de 2025 às 18:15

Cuidar da saúde mental é essencial para manter a qualidade de vida (Imagem: Maples Images | Shutterstock)
Cuidar da saúde mental é essencial para manter a qualidade de vida Crédito: Imagem: Maples Images | Shutterstock

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como o estado de bem-estar que permite ao indivíduo lidar com os momentos estressantes da vida, desenvolver habilidades, ser capaz de aprender, trabalhar e contribuir com a comunidade.

O tema, que vem ganhando mais atenção nos últimos anos, especialmente por conta dos impactos sociais e emocionais da pandemia de COVID-19, foi considerado pelos brasileiros como o principal problema de saúde enfrentado no país. 

O relatório global World Mental Health Day 2024mostrou que o índice de preocupação com a saúde mental triplicou de 2018 para 2024, subindo de 18% para 54%. A pesquisa ainda revelou que o Brasil é o quarto país mais estressado do mundo, com 42% dos entrevistados relatando esse sentimento.

Saúde mental como base do bem-estar

De acordo com Gislane Martins, psicóloga e professora do curso de Psicologia da UniSociesc, a saúde mental é uma parte essencial para a nossa qualidade de vida , interferindo diretamente em como nos sentimos, pensamos, relacionamos e lidamos com os desafios do dia a dia.

“Quando estamos com a saúde mental em equilíbrio, conseguimos aproveitar a vida com mais leveza, fazer planos, manter relações afetivas saudáveis, trabalhar, estudar e realizar nossas atividades com disposição. Mas, quando algo nos abala emocionalmente, como um trauma, uma perda significativa ou até mesmo um período de estresse intenso, essas ações rotineiras podem se tornar muito difíceis”, explica.

Pessoas que vivem com depressão, por exemplo, podem enfrentar grandes obstáculos para realizar tarefas cotidianas, como sair da cama pela manhã. Já quem sofre de transtornos de ansiedade ou pânico pode sentir medo ou angústia ao pensar em situações comuns, como conversar com outras pessoas ou ir a determinados lugares. Esses problemas não costumam aparecer em exames, mas têm um impacto profundo na qualidade de vida.

Diferenças entre saúde mental e doença mental

Amanda Lang, psicóloga e professora de Psicologia da UniSociesc, lembra que é fundamental distinguir saúde mental de doença mental. “Quando falamos em saúde mental, nos referimos ao bem-estar emocional, psicológico e social de todos nós, não apenas daqueles que enfrentam um transtorno. Já a doença mental é diagnosticada por profissionais como psicólogos, psiquiatras ou neurologistas e envolve alterações significativas no comportamento, humor ou cognição”, esclarece.

No entanto, ter saúde mental não significa estar feliz o tempo todo. “Tem dias que a gente não acorda bem, isso é normal. Mas, quando o desânimo vira rotina, quando a pessoa se afasta de quem gosta, perde o interesse por coisas básicas e se sente exaurida com frequência, é um sinal de alerta”, diz a especialista.

O corpo dá os sinais

O nosso corpo costuma dar sinais quando algo não vai bem. “A mudança de comportamento é um dos principais indicativos. Quando uma pessoa está se sentindo sobrecarregada, cansada emocionalmente, ela começa a se isolar, a evitar atividades que antes gostava, a ficar mais irritada ou apática. E nem sempre percebe. Às vezes, são os outros que notam primeiro e comentam”, adverte Amanda Lang.

Gislane Martins lembra que medo, raiva e tristeza são emoções que fazem parte de quem somos, como seres humanos. Senti-las não é um problema. Porém, é preciso identificar que, em alguns momentos, esses sentimentos podem estar intensos e frequentes demais, chegando a atrapalhar as relações e a dinâmica cotidiana das pessoas. 

“Uma sensação de vulnerabilidade extrema diante das situações relativamente simples, um choro que surge em momentos em que não deveria aparecer, emoções mais intensas que o esperado e até alterações no sono, apetite e alimentação são sinais de alerta”, destaca a psicóloga. Nesses casos, é essencial procurar ajuda.

Autoconhecimento e regulação emocional

Para Amanda Lang, o autoconhecimento é um dos pilares fundamentais da saúde mental. “Se eu sei quem eu sou, eu entendo o que me afeta e como posso reagir. Não controlamos o mundo, mas podemos controlar nossa resposta diante do mundo”, afirma.

Nesse processo, a terapia é uma ferramenta poderosa, mas também há outras atividades e atitudes simples que podem contribuir para essa conexão consigo. “Às vezes, ouvir uma música, fazer uma viagem sozinho, refletir, escrever um diário… tudo isso também ajuda a nos conhecermos melhor”, explica a psicóloga.

Outra dica valiosa é aprender a lidar com o estresse. Seja no trabalho, no trânsito ou em casa, quando algo nos tira do eixo, tendemos a reagir impulsivamente. No entanto, a primeira coisa que devemos fazer é parar e respirar. Três respirações profundas já ajudam o cérebro a oxigenar e entender melhor a situação. “É o famoso contar até dez. Esse tempo é suficiente para diminuir a reatividade e nos ajudar a agir com mais clareza”, ensina a profissional.

O estresse constante é um dos sinais importantes de que é hora de buscar apoio (Imagem: Josep Suria | Shutterstock)
O estresse constante é um dos sinais importantes de que é hora de buscar apoio Crédito: Imagem: Josep Suria | Shutterstock

Quando e como buscar ajuda

É importante procurar ajuda sempre que perceber que algo não vai bem emocionalmente, mesmo que o indivíduo não saiba exatamente o que está acontecendo. Sentimentos persistentes de tristeza, ansiedade, desânimo, dificuldade para lidar com perdas, estresse constante ou conflitos nos relacionamentos são sinais importantes de que é hora de buscar apoio. “O processo de cuidado começa, muitas vezes, antes mesmo da primeira consulta, quando a pessoa reconhece que precisa de auxílio”, comenta Gislane Martins.

Segundo a psicóloga, a terapia é um espaço seguro em que o profissional contribui para o paciente compreender melhor suas emoções, comportamentos e pensamentos. “É como montar um quebra-cabeça: aos poucos, com apoio profissional, a pessoa começa a enxergar conexões e sentidos em suas vivências. O psicólogo não julga, não dá ordens, mas oferece suporte para que o paciente se conheça mais profundamente, identifique o que está causando sofrimento e possa fazer escolhas mais conscientes, que favoreçam seu bem-estar”, explica.

É importante lembrar que existem várias abordagens terapêuticas e que o psicólogo pode até indicar o acompanhamento de outros profissionais, como psiquiatras , nutricionistas ou neurologistas, dependendo da necessidade. O tratamento costuma ser mais eficaz quando há envolvimento ativo do paciente, já que o trabalho em psicoterapia é feito em parceria.

Terapia e atividades “terapêuticas” fazem diferença

A terapia é um recurso de autocuidado. “Felizmente, cada vez mais pessoas que não têm uma doença diagnosticada têm buscado cuidar da saúde mental de forma preventiva. E isso é ótimo”, afirma Amanda Lang.

Mas, para além da terapia, que deve ser buscada sempre que possível, há atitudes simples e cotidianas que têm efeito terapêutico. “É importante fazer coisas que nos conectem com nós mesmos, que tragam prazer e bem-estar”, sugere.

A seguir, confira 5 dicas práticas para cuidar da sua saúde mental!

1. Estabeleça uma rotina com pausas e descanso

Ter horários definidos para acordar, se alimentar, trabalhar e dormir ajuda a dar uma sensação de organização e segurança. Incluir momentos de pausa durante o dia também é importante para evitar sobrecarga mental.

2. Pratique alguma atividade física

Movimentar o corpo libera substâncias como endorfina e serotonina, que contribuem para o bem-estar. Não precisa ser nada complicado: uma caminhada, alongamento, dança ou uma aula de yoga já fazem diferença.

3. Cuide da qualidade do sono

Dormir bem é essencial para o equilíbrio emocional. Tente manter um horário regular para dormir, evite telas antes de se deitar e crie um ambiente calmo no quarto.

4. Construa conexões afetivas

Conversar com pessoas de confiança, trocar ideias, rir e se sentir acolhido é uma parte fundamental da saúde mental. Relações saudáveis ajudam a enfrentar momentos difíceis com mais leveza.

5. Busque ajuda profissional quando necessário

Sentir-se sobrecarregado, triste ou ansioso com frequência não é “frescura”, nem sinal de fraqueza. Psicólogos e psiquiatras são profissionais preparados para ajudar, e procurar apoio é um ato de coragem e autocuidado.

Por Genara Rigotti