Publicado em 9 de setembro de 2025 às 17:48
De solução milagrosa para a libido feminina a sinônimo de energia extra para os homens, a testosterona passou a ser vista como um verdadeiro “atalho” para resolver diferentes questões de saúde e bem-estar. No entanto, essa visão simplista esconde riscos: a reposição hormonal não é uma fórmula mágica e precisa ser indicada apenas em situações específicas, sempre com acompanhamento médico. Quando feita sem necessidade ou sem controle adequado, pode trazer efeitos colaterais e comprometer a saúde. >
“É comum ouvir no consultório perguntas como ‘minha libido sumiu, será que preciso usar testosterona?’ A questão é que a sexualidade humana é complexa demais para caber em uma prescrição simplificada”, afirma o endocrinologista Ramon Marcelino, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). >
A seguir, o médico esclarece os principais mitos e verdades sobre a reposição de testosterona em homens e mulheres. Confira! >
Mito. Durante a vida reprodutiva, quem rege os ciclos hormonais da mulher são o estrógeno e a progesterona. A testosterona existe em menor quantidade e cai pouco após os 35 anos. “Curiosamente, muitas mulheres que relatam queda no desejo nessa fase têm vários problemas associados e causadores, sem nenhuma correlação com as dosagens de testosterona”, destaca Ramon Marcelino. >
Mito. Desejo sexual é multifatorial: envolve sono, rotina, saúde mental, autoestima, relacionamento e contexto de vida. Devemos tratar somente após afastarmos as causas mais comuns do transtorno. “Uma mulher estressada, sobrecarregada ou em um relacionamento tóxico dificilmente sentirá desejo, e não há testosterona que resolva isso”, ressalta o endocrinologista. >
Verdade. Há mulheres que não sentem vontade “do nada”, mas respondem ao toque e à intimidade. Isso não é doença. “É fundamental desmistificar a ideia de que só quem sente desejo espontâneo tem uma sexualidade saudável. A resposta reativa também é normal”, afirma Ramon Marcelino. >
Verdade. O excesso de peso pode levar ao chamado MOSH (sigla em inglês para “hipogonadismo secundário associado à obesidade”). Nessa condição, a gordura corporal aumenta a conversão da testosterona em hormônios femininos, prejudicando a produção natural do hormônio. “Isso impacta a vida sexual, a fertilidade, a massa muscular, a disposição e até a expectativa de vida”, explica o endocrinologista. >
Mito. Muitas pessoas acreditam que simplesmente aumentar os níveis de testosterona é a solução para problemas de saúde relacionados ao hormônio. No entanto, o especialista alerta que essa abordagem pode ser enganosa. “Repor testosterona sem tratar a causa não resolve o problema. O hormônio funciona muito mais como marcador da saúde do que como remédio universal”, reforça Ramon Marcelino. >
Um estudo conduzido pela agência federal americana Food and Drug Administration (FDA) constatou um aumento de 300% no uso de testosterona entre homens acima de 40 anos nos Estados Unidos, muitas vezes sem diagnóstico confirmado. O consumo excessivo pode causar infertilidade, arritmias cardíacas e até aumentar o risco de fraturas. >
Verdade. Quando há diagnóstico clínico e acompanhamento adequado , a reposição pode ser feita de forma responsável. Mas o uso sem critério é arriscado. “A prescrição ética exige escuta ativa, empatia e investigação cuidadosa. Só depois de descartar outras causas é que a reposição pode ser cogitada, e sempre com cautela”, finaliza o especialista. >
Por Samara Meni >