Conheça os sinais da demência por corpos de Lewy

Condição prejudica a função neuronal nas regiões ligadas ao pensamento, ao movimento, à atenção e à percepção visual

Publicado em 6 de outubro de 2025 às 12:48

A demência por corpos de Lewy é uma doença neurodegenerativa (Imagem: Svetlana Bulatovic | Shutterstock)
A demência por corpos de Lewy é uma doença neurodegenerativa Crédito: Imagem: Svetlana Bulatovic | Shutterstock

O diagnóstico recente de Demência por Corpos de Lewy (DCL) atribuído ao cantor Milton Nascimento reacende a atenção para essa forma de doença, menos conhecida que o Alzheimer e com características próprias. Essa condição prejudica a função neuronal nas regiões ligadas ao pensamento, ao movimento, à atenção e à percepção visual.

“A demência por corpos de Lewy é uma doença neurodegenerativa, considerada a segunda mais comum depois do Alzheimer. Ela ocorre devido ao acúmulo de proteínas anormais no cérebro, que comprometem as conexões entre os neurônios e prejudicam a comunicação nessa rede complexa de informações”, explica Felipe Vecchi, geriatra e diretor médico e operacional dos residenciais Cora e Vivace, da BSL Saúde.

Sinais da demência por corpos de Lewy

Essa demência costuma apresentar quadro misto, com manifestações cognitivas, motoras e neuropsiquiátricas. “Quando alterações cognitivas começam a prejudicar atividades do dia a dia é preciso acender um sinal de alerta. No caso da demência por corpos de Lewy, além da alteração cognitiva, chamam atenção sintomas como alterações de sono, agitação noturna, alucinações visuais e quedas repetidas”, alerta Felipe Vecchi.

Os principais sinais da doença incluem:

  • Flutuações cognitivas e de atenção: períodos de mais lucidez intercalados com confusão ou desorientação (sintoma característico de DCL);
  • Alucinações visuais recorrentes bem formadas: imaginar pessoas ou objetos que não existem é um sinal bastante sugestivo da doença;
  • Sintomas parkinsonianos: rigidez, tremores ou lentidão de movimentos podem se manifestar ao lado dos sintomas cognitivos;
  • Transtorno comportamental do sono REM (RCL): pessoas podem agir no sonho, movimentando-se ou falando enquanto dormem. Esse fenômeno é considerado sinal precoce em muitos casos;
  • Sintomas autonômicos e não-motores: hipotensão ortostática (queda de pressão ao se levantar), constipação, alterações de controle vesical, disfunção gastrointestinal.

Distinções entre os sinais de DCL, Alzheimer e Parkinson

Os sinais da demência por corpos de Lewy podem se sobrepor aos de Alzheimer ou Parkinson, o que torna o diagnóstico mais desafiador, exigindo atenção especializada. “No Alzheimer, os primeiros sinais costumam estar ligados à memória, que é a função mais precocemente afetada. Já a demência por corpos de Lewy se manifesta inicialmente com alterações cognitivas acompanhadas de mudanças de comportamento, distúrbios do sono e sintomas como tremores ou rigidez muscular, muito semelhantes ao Parkinson”, explica Felipe Vecchi.

Em contrapartida, no Parkinson os sinais motores aparecem primeiro e só depois pode surgir a demência, enquanto na demência por corpos de Lewy as alterações cognitivas precedem os sintomas motores. A diferença principal está na ordem dos sintomas, e reconhecer essas distinções é fundamental para o diagnóstico correto e para orientar o plano de cuidado.

A demência por corpos de Lewy apresenta algumas diferenças do Alzheimer e do Parkinson (Imagem: estetoscópio | shutterstock)
A demência por corpos de Lewy apresenta algumas diferenças do Alzheimer e do Parkinson Crédito: Imagem: estetoscópio | shutterstock

Diferenciando DCL de Alzheimer e Parkinson

A demência por corpos de Lewy compartilha aspectos com o Alzheimer, como o declínio cognitivo, e com o Parkinson, como os sintomas motores. Mas há distinções importantes entre as condições, tais como:

  • Na DCL, os sintomas cognitivos aparecem no início, ou logo após o começo dos sintomas parkinsonianos, enquanto no Parkinson com demência a progressão motora precede o declínio cognitivo por mais de um ano;
  • As alucinações visuais bem-estruturadas e flutuações de atenção são muito mais comuns na DCL do que no Alzheimer;
  • A sensibilidade extrema a antipsicóticos é uma peculiaridade da DCL. Medicamentos usados em Alzheimer ou em alucinações podem provocar efeitos adversos graves em pacientes com DCL;
  • Biomarcadores de core (como cintilografia dopaminérgica, PET, imagem cardíaca, eletroencefalograma) e substância patológica (α-sinucleína nos corpos de Lewy) ajudam no diagnóstico diferencial.

Estratégias para preservar qualidade de vida

Embora a demência por corpos de Lewy ainda não tenha cura, intervenções multidisciplinares podem melhorar a convivência, retardar a progressão dos sintomas e aliviar o sofrimento. “É uma condição neurodegenerativa progressiva. Nosso objetivo não é reverter o quadro, mas, sim, desacelerar a evolução dos sintomas e garantir que o paciente permaneça ativo e funcional pelo maior tempo possível”, destaca o geriatra.

Algumas estratégias para preservar a qualidade de vida do paciente com demência por corpos de Lewy são:

  • Tratamento medicamentoso ajustado: inibidores da colinesterase são considerados de primeira linha para sintomas cognitivos em DCL;
  • Gestão dos sintomas não cognitivos: tratar alucinações, depressão, oscilação de humor e sintomas motores com cautela, evitando antipsicóticos de alto risco;
  • Cuidados não farmacológicos: rotina estruturada, ambientes seguros, estímulos cognitivos, atividades físicas adaptadas e socialização são fundamentais para manter funcionalidade e bem-estar;
  • Intervenções auxiliadoras: fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia podem ajudar na mobilidade, no equilíbrio e na comunicação;
  • Apoio à família e aos cuidadores: orientação, grupos de suporte, planejamento antecipado (planejamento de cuidados e decisões antecipadas) são cruciais para reduzir a sobrecarga.

O planejamento de cuidado é indispensável. É preciso preparar a família e educar o cuidador para lidar com as fases da doença, organizar rede de apoio e manter o paciente estimulado sempre com segurança e dignidade. “Não se trata apenas de oferecer carinho, mas também processos seguros, atividades personalizadas e rotinas que respeitem os limites e interesses de cada idoso”, orienta Felipe Vecchi.

Por outro lado, é preciso também prestar atenção nos cuidadores. O geriatra alerta que não é incomum ver familiares adoecendo antes do próprio paciente de tanto se dedicarem ao cuidado sem apoio. Por isso, os residenciais e redes de suporte são fundamentais para equilibrar amor, responsabilidade e qualidade de vida.

Por Andressa Marques