Publicado em 5 de setembro de 2025 às 14:48
Um gesto simples, rápido e seguro, capaz de salvar até quatro vidas com uma única ação. A doação de sangue é um poderoso instrumento de solidariedade quando o assunto é saúde. No entanto, garantir os estoques para atender pacientes em cirurgias, vítimas de acidentes e pessoas em tratamento contra doenças graves é um desafio persistente. >
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), apenas 1,6% da população é doadora de sangue. Apesar desse percentual ficar dentro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) — que indica como ideal uma população doadora entre 1% e 3% —, os hemocentros no país seguem enfrentando o problema dos baixos estoques. Para reverter esse cenário e ampliar o número de doadores, o caminho é vencer a desinformação. >
“Existem muitos mitos em torno da doação de sangue, e isso acaba afastando pessoas que poderiam ser doadoras”, comenta a doutora na área da saúde e professora do curso de Farmácia da UniSociesc, Gabriela Kozuchovski Ferreira. A especialista esclarece que não há segredo para a doação: “Para doar, basta ter entre 16 e 69 anos, pesar mais de 50 quilos, estar em boas condições de saúde, estar alimentado, ter dormido pelo menos seis horas na noite anterior e apresentar um documento oficial com foto”. >
Entre os mitos mais comuns, está a ideia de que doação pode “afinar” ou “engrossar” o sangue ou, até mesmo, causar algum tipo de vício. “Nada disso é verdade. O organismo repõe rapidamente o sangue doado, então não existe nenhum tipo de dependência fisiológica associada”, afirma Gabriela Kozuchovski Ferreira, enfatizando a segurança do procedimento. >
Outro receio recorrente é o de que a coleta provoca dor ou efeitos colaterais prolongados. “A sensação é apenas a de uma picada de agulha. A coleta dura em torno de dez minutos, seguida por um período de descanso de cerca de 15 minutos e um lanche. O corpo se recupera rapidamente, e raramente há outras consequências. Quando acontecem, podem ser tontura leve ou fraqueza passageira, facilmente contornadas com repouso e hidratação”, detalha a profissional. >
Além dos requisitos básicos, algumas situações geram dúvidas entre os candidatos a doadores. Pessoas que fizeram tatuagens ou colocaram piercings , por exemplo, podem doar sangue, desde que respeitado o período de seis meses após o procedimento. Caso o piercing tenha sido colocado em regiões de maior risco, como boca ou genitais, o prazo sobe para 12 meses. >
Quem usa medicamentos precisa passar por avaliação. “Em muitos casos, é possível doar. Anticoncepcionais, vitaminas e remédios leves não são impeditivos. Mas o uso de antibióticos , anticoagulantes, quimioterápicos e determinados medicamentos psiquiátricos podem impossibilitar a doação temporária ou permanentemente”, explica a professora. >
Outro ponto que gera confusão é a relação entre doação e covid-19. “Quem teve a doença pode doar 10 dias após a recuperação completa, sem sintomas. Já no caso das vacinas, basta aguardar 48 horas após a aplicação da dose contra a covid-19 ou até sete dias, dependendo do tipo de vacina”, orienta Gabriela Kozuchovski Ferreira. >
Os bancos de sangue precisam de todos os tipos sanguíneos, mas os negativos são os mais escassos. O negativo, conhecido como doador universal, é especialmente valioso, pois pode ser usado em qualquer paciente. “Mas, independentemente do tipo, toda doação é fundamental. O equilíbrio dos estoques depende da diversidade de doadores”, reforça a especialista. >
Em cada coleta, são retirados cerca de 450 ml de sangue , quantidade que o corpo repõe em até 24 horas. Já as células vermelhas levam cerca de 30 dias para serem regeneradas. Por isso, existem intervalos entre as doações: os homens podem doar a cada dois meses, até quatro vezes ao ano; as mulheres, a cada três meses, no máximo três vezes por ano, devido à perda natural de ferro decorrente da menstruação. >
O sangue coletado não é utilizado de forma única. Ele é separado em diferentes componentes — como hemácias, plasma, plaquetas e crioprecipitado —, que podem atender pacientes com diferentes necessidades, desde pessoas em quimioterapia até vítimas de acidentes graves. Dessa forma, uma única doação pode salvar até quatro vidas. >
Para Gabriela Kozuchovski Ferreira, vencer o medo e a desinformação é o primeiro passo para aumentar o número de doadores. “Doar sangue é um gesto simples e extremamente seguro. Em menos de uma hora, podemos ajudar até quatro pessoas. Quem doa, salva vidas e espalha esperança”, conclui. >
Por Genara Rigotti >