Publicado em 14 de dezembro de 2025 às 13:29
Uma reportagem veiculada pela Revista Piauí neste sábado (13), trouxe detalhes do envolvimento do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, com o empresário Roberto Leme — conhecido como Beto Louco, controlador da Copape, fabricante de gasolina — e seu sócio Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”, ambos investigados em fraude bilionária no setor dos combustíveis.>
Segundo a reportagem, em delação Beto Louco quer relatar à Procuradoria Geral da República (PGR) como abasteceu boa parte do panteão do Congresso Nacional com dezenas de milhões de reais em troca de influência, entre 2021 e 2025, com destaque para Davi Alcolumbre, e Antonio Rueda, presidente do União Brasil.>
A publicação revela que Alcolumbre teria feito pedidos de pagamentos para bancar um show do cantor Roberto Carlos, em um festival de fim de ano, no Amapá, em dezembro de 2024. De acordo com Beto Louco, foi desembolsado o valor de R$ 2,5 milhões para bancar o show – o que seria apenas uma parte dos milhões que diz já ter desembolsado para o senador.>
A proposta de delação, segundo apurado pela Piauí, diz que a tratativa foi realizada no dia 20 de dezembro de 2024, em reunião presencial no gabinete do senador, em Brasília. O dinheiro, afirma a proposta de delação, era a forma encontrada por Beto Louco para tentar reverter uma decisão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) que havia proibido a Copape de produzir combustível, sua principal atividade. O empresário reclamou que o fechamento fora resultado de “perseguição regulatória” e pediu ajuda.>
Na conversa, Beto Louco lembrou que o senador tinha meios de pressionar por uma reversão. Afinal, naquele mês de dezembro, o governo Lula havia indicado dois nomes para integrar a diretoria da ANP. E os nomes seriam submetidos a uma sabatina no Senado, momento em que Alcolumbre podia exercer sua influência.>
De acordo com o relato entregue à PGR, Alcolumbre sinalizou disposição para ajudar. Em dado momento da reunião, ainda segundo o documento, o senador mudou de assunto e contou que ele próprio estava com um problemão de outra natureza. Com a desistência de um patrocinador, ficou faltando dinheiro para bancar os custos do show de Roberto Carlos, já anunciado pelo governo amapaense. Faltavam precisamente R$2,5 milhões de reais.>
Segundo a proposta de delação, Beto Louco concordou em pagar o valor, e o senador pediu que a transferência fosse feita por intermédio de um contato chamado “Cleverson”.>
Segundo os documentos apresentados à PGR, o intermediário enviou os dados de duas contas bancárias para o depósito de duas parcelas, cada uma no valor de R$ 1,25 milhão. Uma conta era da CINQ Capital Instituição de Pagamentos, no Banco do Brasil. A outra era da QIX Transportes Logística Ltda, na Sicredi.>
Conforme o combinado, as duas transferências foram realizadas por uma empresa da dupla na véspera do show do Rei, que aconteceu no dia 28 de dezembro. A piauí teve acesso ao número de contato de “Cleverson”. O DDD é do Ceará e o dono do número chama-se Kleryston Pontes Silveira, um empresário do ramo musical de Fortaleza, e Roberto Carlos não está entre seus agenciados.>
Ainda segundo o material de posse da PGR, Beto Louco ligou para Alcolumbre para avisar que os depósitos haviam sido feitos. A ligação estava falhando, mas logo o senador respondeu com uma mensagem: “Tamo junto sempre!” e “Muito obrigado!”.>
Procurado pela piauí, Alcolumbre respondeu por meio de sua assessoria que “não mantém relação comercial ou empresarial com os citados”. Sua nota diz o seguinte:>
“As empresas mencionadas [refere-se à QINC e à QIX] nunca patrocinaram o Réveillon do Amapá nem qualquer evento articulado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre. O senador não mantém relação comercial ou empresarial com os citados.>
É fato público que o presidente Davi sempre buscou, de forma institucional, correta e transparente, apoio de empresas para iniciativas que fortalecem a cultura e geram empregos no Amapá — como a Expofeira, o Carnaval e o Réveillon. Em 2024, o senador solicitou a várias empresas e instituições apoio para fomentar o evento, entre elas a Febraban e o Banco do Brasil.>
Como senador do Amapá, Davi Alcolumbre atua diariamente em todas as pautas estratégicas para o estado. Recebe dezenas de pessoas por dia em seus compromissos, sempre dentro da legalidade, e continuará fazendo isso porque o desenvolvimento do Amapá é a sua bandeira.>
O presidente do Senado repudia de forma categórica qualquer tentativa de associá-lo a atos ilícitos, denuncia a distorção dos fatos e reafirma seu compromisso inegociável com a lei e com a verdade.”>
A defesa de Beto Louco e de Mohamad Mourad afirma que “não se manifestará a respeito da existência ou não de quaisquer tratativas de acordo, sobretudo porque, se existirem, devem tramitar sob o mais absoluto sigilo”.>
O empresário Kleryston Pontes Silveira diz que conhece o senador Alcolumbre apenas de forma profissional: “Dos eventos que meus artistas já fizeram no Amapá.” Sobre o show de Roberto Carlos, ele nega ter tido qualquer ingerência.>
A proposta de delação foi apresentada em setembro e recusada pela PGR, e Beto Louco e Mohamad Mourad enviaram informações complementares à sugestão inicial, e ainda aguardam uma nova análise da procuradoria. Cabe ao procurador-geral Paulo Gonet decidir se quer investigar o que os empresários estão dispostos a revelar, em meio à forte pressão política para abafar o caso.>
Fonte: Revista Piauí>