Publicado em 15 de novembro de 2025 às 10:52
A situação climática no Brasil é muito preocupante. O número de desastres por ciclones e frentes frias aumentou em 19 vezes no país. É o que mostra um estudo lançado aqui na COP30 em Belém no Pará. Foram 407 desastres climáticos entre 1991 e 2024, segundo a pesquisa.
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Este mês, por exemplo, tornados no Paraná deixaram sete mortos e mais de 700 feridos. E entre 2021 e 2024, o crescimento desses eventos extremos foi de 1.800% em relação à década de 1990. Foram 44 ocorrências contra uma média de 2,3 registros a 30 anos.>
Os dados são da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo e a Fundação Grupo Boticário. O pesquisador Ronaldo Cristofoletti, professor da Unifesp e membro da rede de especialistas em conservação da natureza, explica que a causa principal desses desastres é o aquecimento global que está ampliando a intensidade de frentes frias, ciclones e ondas de frio no Brasil.>
"A cada vez que aquece o planeta mais, isso gera um estresse térmico em todo o planeta e isso implica nas regiões polares, né? No nosso caso lá na Antártica. e aí muito mais massas de ar frio vem. A gente sempre que tá ouvindo sobre a previsão do tempo, alguém tá falando uma massa de ar frio, tá se aproximando, vindo do sul. É a Antártica mandando essas massas de ar frio e a frequência tá ficando cada vez mais forte. E aí o que acontece é que isso leva a uma série, né, de desastres e de perdas.">
O estudo registrou o impacto em 232 municípios, afetando 1,2 milhão de pessoas. Os principais afetados são os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Pelos registros, mais de 27 mil pessoas ficaram desalojadas ou desabrigadas. Segundo Ronaldo Cristofoletti, as cidades foram construídas em uma época que esses eventos extremos não eram comuns.>
"É preciso que agora se prepare uma infraestrutura adaptada à situação climática para proteger a população. As nossas ruas estão preparadas, os nossos prédios estão preparados? A estrutura das pontes para enfrentar ciclone estão preparadas? E das estradas e das casas? Isso vai passar por toda uma série de ações a começar por ações de soluções baseadas na natureza que é preservar e, quando possível, restaurar as áreas naturais porque elas nos protegem, os manguezais, as restingas nas zonas costeiras. Toda vegetação natural que a gente tem em cada ecossistema, ela protege nesses momentos. Então essas são soluções que nos ajudam.">
O pesquisador ainda cita debates importantes da COP30 para conter o número de eventos extremos, como a diminuição das emissões de gases de efeito estufa e do financiamento climático. Mas Ronaldo Cristofoletti alerta que mesmo com medidas urgentes, as ações só vão dar resultados daqui a mais de 10 anos.>
"A mudança do clima, ela é uma realidade e ela já é visível a todo mundo e ela vai continuar crescendo nas próximos 10, 15 anos mesmo que a gente faça tudo que tenha que fazer agora. É igual desligar o forno depois que assou algo. Ele não fica frio na hora, né? Demora um tempo para dissipar aquela energia. Então, mesmo que a gente fizesse tudo o que é necessário fazer, que a ciência já mostrou agora, a gente ainda tem 10, 15 anos de rescaldo e isso significa mais impacto na vida das pessoas. Então, nós temos que nos preparar.">
O estudo indica ainda que esses eventos extremos levaram um prejuízo de R$ 2,740 bilhões para o Brasil Os serviços públicos de energia, transporte e distribuição foram os mais afetados. Na parte privada, a agricultura é o setor que mais sofreu perdas.>