Contador da ostentação é detido em esquema que lava mais de R$ 630 milhões para facção criminosa

Investigação da PF revela papel-chave de Rodrigo de Paula Morgado como operador financeiro do PCC.

Publicado em 16 de outubro de 2025 às 08:31

Contador da ostentação é detido em esquema que lava mais de R$ 630 milhões para facção criminosa
Contador da ostentação é detido em esquema que lava mais de R$ 630 milhões para facção criminosa Crédito: Reprodução/Redes Sociais

A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (14), nas regiões de São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a Operação Narco Bet, cujo objetivo é desarticular uma estrutura de lavagem de dinheiro da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). No bojo da ação, foram emitidos 11 mandados de prisão e 19 de busca e apreensão, com bloqueio de bens que ultrapassam R$ 630 milhões.

O principal alvo é o contador e empresário Rodrigo de Paula Morgado, apontado como operador financeiro da organização criminosa. Em sua residência em Santos (SP), a PF apreendeu carros importados, entre eles uma McLaren 765LT Spider 2022, avaliada em torno de R$ 5 milhões. Morgado é suspeito de comandar movimentações milionárias que envolvem empresas de fachada, criptomoedas, remessas internacionais, apostas eletrônicas (“bets”) e até o uso de jovens moradores de comunidades afastadas como laranjas.

Entre os implicados está também o influenciador digital Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como Buzeira. Com mais de 15 milhões de seguidores, ele é apontado pela PF como um dos beneficiários diretos do esquema. A investigação mostra que Buzeira recebeu valores que seriam oriundos de transações ilícitas, muitas vezes mascarados por apostas online e transações em criptoativos.

O esquema também foi alertado pelo DEA (agência antinarcóticos dos EUA), sobretudo após a apreensão do veleiro Lobo IV em fevereiro de 2023, interceptado pela Marinha dos Estados Unidos próximo à costa africana com mais de 3 toneladas de cocaína. Essa operação anterior, denominada Narco Vela, é considerada predecessora ou desdobramento dessa nova fase de investigações.

Relatórios da PF apontam que a atuação de Morgado ultrapassava o papel contábil: ele estaria na coordenação das transações financeiras, criação de empresas de fachada em nome de terceiros, uso de “holdings ocultas”, e emissão de notas fiscais fraudulentas para disfarçar a real origem dos valores. A lista de possíveis beneficiados inclui pessoas como Ingrid Ohara Silva Nogueira e o indivíduo conhecido como “T10”, que teriam recebido milhões em repasses suspeitos.

Quanto às justificativas de Morgado para a ostentação e crescimento financeiro repentino, ele afirma que o patrimônio é fruto de esforço, estudo e mentorias com personalidades do setor motivacional. No entanto, a disparidade entre os rendimentos declarados e os valores investigados pela PF levantou suspeitas.

A Operação Narco Bet evidencia uma evolução nos métodos atribuídos ao crime organizado, que alia tráfico internacional de drogas a sofisticados mecanismos financeiros: empresas de fachada, criptomoedas, apostas eletrônicas e uso estratégico de redes sociais. Até o momento, não há confirmação pública de todas as ligações apontadas pela PF, e as defesas dos investigados alegam falta de provas conclusivas em alguns casos.