Destinação do lixo é inadequada em 1.855 cidades do Brasil; confira

O Instituto Valoriza Resíduos promove a conscientização sobre a coleta, reciclagem, tratamento e destinação ecologicamente correta do lixo, em busca de um futuro mais sustentável.

Estadão Conteúdo

[email protected]

Publicado em 5 de junho de 2025 às 11:29

O Brasil ainda tem cerca de 3 mil lixões a céu aberto desrespeitando a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
O Brasil ainda tem cerca de 3 mil lixões a céu aberto desrespeitando a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Crédito: Pexels

Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, o Brasil ainda tem cerca de 3 mil lixões a céu aberto e 1.855 municípios que não dão destinação adequada a seus detritos, desrespeitando a Política Nacional de Resíduos Sólidos, adotada em 2010.

O balanço foi apresentado por João Gianesi Netto, presidente do Instituto Valoriza Resíduos, que promove a conscientização sobre a coleta, reciclagem, tratamento e destinação ecologicamente correta do lixo, em busca de um futuro mais sustentável.

Em entrevista à Rádio Eldorado, ele disse que os municípios mais afetados têm menos de 10 mil habitantes e alegam falta de recursos para viabilizar uma destinação correta do lixo Gianesi defendeu a necessidade de mais financiamentos governamentais e de iniciativas de regionalização para que as prefeituras possam se unir e reduzir os custos para o tratamento adequado dos resíduos.

A quantidade de resíduos sólidos urbanos destinados inadequadamente no Brasil cresceu na última década. O montante passou de 25,3 milhões de toneladas por ano em 2010 para 29,4 milhões de toneladas por ano em 2019. Em 2025, o montante estimado de resíduos sólidos urbanos destinados inadequadamente é de aproximadamente 32.136 milhões de toneladas. Os dados são do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, lançado pela Associação Brasileiras das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

De acordo com a entidade, a destinação inadequada dos resíduos para lixões ou aterros controlados, e não para os aterros sanitários, prejudica diretamente a saúde de 77,65 milhões de brasileiros atualmente, e gera um custo ambiental e para o sistema de saúde de cerca de US$ 1 bilhão por ano.

Três regiões descartam seus resíduos inadequadamente acima da média nacional (59,5%). O Nordeste concentra o maior número de cidades com destinação irregular: 1.340 municípios (74,6%), seguido da Região Norte, com 79% das cidades (357 municípios) e do Centro-Oeste, 65% dos municípios (305 cidades).

Segundo a Abrelpe, considerando a manutenção do cenário atual, serão necessários 55 anos para que aterros controlados e lixões sejam encerrados em todo o país.

“A lentidão observada nos últimos dez anos, aliada à projeção dos indicadores futuros, evidencia a extrema urgência para se viabilizar as ações necessárias para o encerramento definitivo dessas práticas medievais de destinação de resíduos”, disse o diretor-presidente da associação, Carlos Silva Filho.

Geração de lixo

Nos últimos dez anos, a geração total de resíduos sólidos urbanos no Brasil cresceu 19%, subindo de 67 milhões de toneladas por ano, em 2010, para 79,6 milhões de toneladas por ano, em 2019. De acordo com a Abrelpe, até 2050 a produção de lixo deverá crescer mais 50% e poderá alcançar 120 milhões de toneladas por ano.

Coleta

Pelo levantamento, a quantidade de resíduos coletados no país cresceu 24%, chegou a 72,7 milhões de toneladas e atingiu 92% de cobertura no país, índice que implica déficit de 6,3 milhões de toneladas por ano sem coleta, que acabam abandonadas no meio ambiente.

Segundo a Abrelpe, apenas dez estados do país têm índice de cobertura de coleta acima da média nacional: São Paulo (99,6%), Rio de Janeiro (99,5%), Santa Catarina (95,84%), Goiás (96,1%), Rio Grande do Sul (95,5%), Distrito Federal (95%), Paraná (95%), Espírito Santo (93,7%), Amapá (93,3%) e Mato Grosso do Sul (92,7%).

Os menores índices de cobertura de coleta são registrados nas regiões Norte e Nordeste, com os estados do Ceará (80,1%), Rondônia (78,9%), Pará (76,7%), Piauí (69,2%) e Maranhão (63,9%) nas últimas cinco posições.

Composição do lixo

De acordo com a pesquisa, os resíduos orgânicos ainda permanecem como principal componente do lixo dos brasileiros, com participação de 45,3%, o que representa pouco mais de 36 milhões de toneladas por ano.

Já os resíduos recicláveis secos somam 35%, sendo compostos principalmente pelos plásticos (16,8%), papel e papelão (10,4%), vidros (2,7%), metais (2,3%) e embalagens multicamadas (1,4%).

Os rejeitos, por sua vez, correspondem a 14,1% do total e são, principalmente, os materiais sanitários. Quanto às demais frações, os resíduos têxteis, couros e borrachas somam 5,6% e outros resíduos, 1,4%.

“Ao longo dos anos temos observado uma mudança no perfil dos resíduos, com gradual redução na proporção de matéria orgânica e aumento dos recicláveis secos, que já ultrapassam um terço do total e nos quais predominam os materiais plásticos, com mais de 13 milhões de toneladas descartadas a cada ano”, ressalta Silva Filho.

Coleta seletiva

As iniciativas de coleta seletiva, que estavam presentes em 56,6% dos municípios em 2010, foram registradas, em 2019, em mais de 73% das cidades. Esse tipo de coleta, no entanto, segundo a Abrelpe, ocorre ainda de forma incipiente.

“A inexistência de um mercado estruturado para absorver os resíduos e as dificuldades logísticas e tributárias devem ser objeto de atenção prioritária, juntamente com a estruturação dos sistemas de logística reversa definidos por lei, já que no período de uma década, apenas aqueles cuja obrigatoriedade antecede o Plano Nacional de Resíduos Sólidos apresentam resultados satisfatórios”, destaca Carlos Silva Filho.