Em áudio, juiz que auxiliou Moraes no STF reclama; ‘não aguento mais’

Vieira disse que teve a família “extremamente prejudicada” e que havia chegado ao seu limite físico, psicológico e emocional.

Publicado em 12 de agosto de 2025 às 19:05

Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF
Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF Crédito: Gustavo Moreno - STF

O juiz Airton Vieira, que auxiliou o ministro Alexandre de Moraes no STF entre 2018 e março de 2025, relatou pressões sofridas enquanto atuava no gabinete dele.

Durante uma conversa em áudio, que a imprensa teve acesso, Vieira disse que teve a família “extremamente prejudicada” e que havia chegado ao seu limite físico, psicológico e emocional.

O desabafo foi endereçado em 14 de janeiro de 2023 a Eduardo Tagliaferro, que chefiava a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), à época presidido por Moraes.

“Olha, realmente a coisa está feia, viu? Eu não estou aguentando mais em termos físicos, psicológicos, emocionais. Eu não consigo dormir sossegado, eu não tenho tranquilidade, eu estou perdendo completamente a higidez mental, o pouco que eu ainda tinha, viu? Realmente a coisa está feia”, diz Vieira.

Ele revela ainda que pensou em antecipar seu retorno ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

“Até depois, em questões de audiência de custódia, sabe, ele vem dando palpite. Espera um pouco, né? Olha, eu não sei como vai evoluir isso, honestamente falando, mas eu sei que eu já cheguei ao meu limite, aliás, já ultrapassei o meu limite faz tempo. É que agora eu estou numa situação, né, eu havia pensado já. Já tinha decidido antecipar a minha passagem”, afirma o juiz.

Na confissão a Tagliaferro, o magistrado relatou ainda estar passando por problemas familiares devido à pressão sofrida no gabinete de Moraes, no STF, mas que havia decidido permanecer na função para não deixar o ministro “na mão”.

“Eu falei: bom, agora que a temperatura vai diminuir, etc., etc. Só que voltou a subir de uma forma exponencial e agora eu fico constrangido de antecipar qualquer coisa, porque passaria a impressão de que eu estaria saindo, pulando do barco, justamente no momento, talvez, de maior tempestade. Isso eu acho desagradável e eu não faria, né? Deixando, no caso, o ministro na mão, mas está muito, muito, muito difícil”, contou Vieira.

Na última sexta-feira (8), Alexandre de Moraes negou o pedido da defesa de Tagliaferro de acesso aos autos do inquérito que o investiga, pelo vazamento de conversas de WhatsApp trocadas com integrantes do gabinete do ministro, relacionadas ao bloqueio de perfis de direita em redes sociais.

A Polícia Federal indiciou o ex-assessor por violação de sigilo funcional com dano à administração pública.