Empresário do agronegócio é acusado de financiar decisão judicial com propina milionária

João Antônio Franciosi, dono de um dos principais grupos do agronegócio do país, é acusado de financiar esquema de compra de sentenças.

Publicado em 27 de outubro de 2025 às 08:33

Empresário do agronegócio é acusado de financiar decisão judicial com propina milionária
Empresário do agronegócio é acusado de financiar decisão judicial com propina milionária Crédito: Reprodução/Grupo Franciosi

Uma investigação da Polícia Federal revelou um suposto esquema milionário que envolve empresários do agronegócio, advogados e um magistrado do Tribunal de Justiça do Piauí (TJPI). O relatório aponta que o empresário João Antônio Franciosi, dono do Grupo Franciosi, teria pago R$ 26 milhões para garantir uma decisão judicial favorável em uma disputa por terras no estado.

De acordo com o documento, o pagamento teria sido direcionado ao desembargador José James Gomes Pereira, responsável pelo julgamento do Agravo de Instrumento nº 0750602-73.2023.8.18.0000. A negociação teria sido intermediada por advogados ligados ao magistrado e à sua filha, Lia Rachel de Sousa Pereira Santos, também advogada.

As investigações indicam que Franciosi contratou o advogado Paulo Augusto Ramos dos Santos para articular a compra da sentença. Segundo a PF, Paulo teria se reunido com os advogados Juarez Chaves e Germano Coelho, responsáveis por intermediar o contato com o desembargador. Entre setembro de 2023 e agosto de 2024, o grupo movimentou mais de R$ 100 milhões, sendo R$ 26 milhões diretamente repassados aos operadores do esquema.

Os valores, conforme o relatório, foram transferidos por meio da empresa Villa Bella das Furnas Participações e Negócios Ltda., pertencente a Paulo Augusto. O dinheiro teria sido enviado por Franciosi à Villa Bella e, em seguida, distribuído entre os advogados que negociaram a decisão. Pagamentos em 16 PIX de alto valor foram identificados no período, reforçando a suspeita de que parte dos recursos teria sido usada para corromper o magistrado.

A sentença em questão beneficiou a empresa Sundeck Holding Ltda., que obteve o direito sobre uma fazenda de 22,5 mil hectares no Piauí. Após a decisão favorável, a propriedade foi repassada para a Villa Bella e, posteriormente, transferida para o Grupo Franciosi, que atua com soja e algodão em grandes áreas na região do Matopiba, fronteira agrícola que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

O Grupo Franciosi administra cerca de 82 mil hectares de terras produtivas, o equivalente à metade da cidade de São Paulo, e já foi citado pela revista Forbes, em 2019, entre as 100 maiores empresas do agronegócio brasileiro.

Além do caso no Piauí, João Franciosi também responde como réu na Operação Faroeste, que investiga a venda de sentenças no Tribunal de Justiça da Bahia. O empresário ganhou projeção nacional em 2022, quando um trator de sua empresa desfilou em Brasília durante as comemorações de 7 de setembro, em ato de apoio ao então presidente Jair Bolsonaro (PL), episódio revelado pela Agência Pública.

A Polícia Federal prossegue com diligências para apurar o envolvimento do desembargador, de sua filha e dos demais suspeitos. O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) será peça central para rastrear o caminho do dinheiro. Caso as suspeitas sejam confirmadas, o esquema pode se tornar um dos principais casos recentes de corrupção no Judiciário estadual brasileiro.