Estudo de CAR-T brasileiro elimina todo o câncer de 72% dos pacientes

O feito é considerado um marco histórico para a oncologia e a hematologia brasileiras.

Publicado em 14 de dezembro de 2025 às 17:53

Hospital Albert Einstein, em Perdizes, São Paulo
Hospital Albert Einstein, em Perdizes, São Paulo Crédito: Divulgação/Albert Einstein

Um estudo realizado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, mostrou resultados promissores da primeira terapia de CAR-T brasileira para eliminar células de câncer. A técnica é uma das mais precisas e avançadas para combater tumores e foi totalmente desenvolvida, produzida e aplicada no país em estudo conduzido entre 2023 e 2024.

Os resultados, apresentados no dia 6 de dezembro e divulgados na revista Blood, mostram a progressão de 11 pacientes com cânceres do sangue avançados e que já não tinham resposta em outras intervenções. Após o tratamento, realizado em colaboração com o Ministério da Saúde, 81% dos pacientes responderam positivamente à terapia e 72% alcançaram a remissão completa.

“Eu diria que é um marco histórico para a oncologia e a hematologia brasileiras. Com a fabricação nacional deixamos de ser apenas compradores de tecnologia importada e passamos a produzir conhecimento e produto de alto valor agregado. Mostramos também que é possível fazer CAR-T com qualidade, segurança e eficácia em um sistema de saúde com recursos limitados como o de nosso país”, afirma o hematologista Nelson Hamerschlak, líder do estudo.

O CAR-T é um tipo de imunoterapia personalizada usada principalmente no tratamento de cânceres do sangue. Ele utiliza células de defesa do paciente, as células T, que são coletadas e modificadas em laboratório para que reconheçam tumores e destruam células doentes com maior eficiência.

A equipe do CAR-T do Einstein tratou 11 pacientes entre 9 e 69 anos. A metade apresentava linfomas de células B. Os demais tinham leucemia linfóide aguda ou leucemia linfóide crônica. Graças à fabricação nacional, o período entre coleta e infusão foi de 22 dias, metade da média, e a taxa de sucesso na produção de células de defesa melhoradas manufatura foi de 100%.

As células modificadas permaneceram ativas por até um ano. A persistência evidencia estabilidade da terapia na circulação. Os efeitos colaterais seguiram padrões conhecidos. A maioria dos pacientes apresentou febre e inflamação. Parte relatou confusão ou sonolência, mas todos os sintomas foram controlados com intervenção médica e desapareceram após manejo.

Apesar de mostrar capacidade de gerar remissões profundas em cânceres hematológicos avançados, a tecnologia enfrenta barreiras no Brasil. O custo da versão importada alcança valores superiores a R$ 2 milhões por pacientes e exige envio das células para Estados Unidos ou Europa em uma logística complexa e cara.

A produção nacional busca romper esse obstáculo. O Ministério da Saúde, porém, informa que não há previsão para incorporação do CAR-T ao SUS. “Qualquer incorporação depende primeiro do registro do produto na Anvisa e, depois, de análise da Conitec, que avalia eficácia, segurança e custo-efetividade antes de aprovar novas tecnologias para o sistema público”, diz a pasta.