Publicado em 20 de maio de 2025 às 12:48
Nos últimos meses, um novo tipo de filtro visual tem gerado controvérsia nas redes sociais: são filtros de realidade aumentada ou gerados por inteligência artificial que simulam traços típicos de pessoas com Síndrome de Down. O mais alarmante é o uso desses filtros para promover ou ilustrar conteúdo de cunho sexual, muitas vezes em vídeos no TikTok, Instagram ou plataformas como o OnlyFans.
>
A prática, considerada por muitos como extremamente ofensiva e capacitista, tem sido denunciada por ativistas, familiares de pessoas com deficiência intelectual e especialistas em ética digital. A indignação é generalizada: os filtros não apenas caricaturam uma condição genética real, mas a associam a um contexto sexualizado, o que agrava a violência simbólica e social contra pessoas com deficiência.>
“Desumanização pura”>
O criador de conteúdo que possui Síndrome de Down Jv de Paiva, se pronunciou, negativando a prática. O rapaz aparece incrédulo após assistir um dos vídeos com os filtros que simulam a síndrome. >
Outras denúncias mostram que alguns criadores de conteúdo chegam a vender vídeos com essas imagens manipuladas, alimentando um mercado de fetichização que há muito já é combatido por movimentos de pessoas com deficiência.>
Falta de regulação e responsabilidade>
Apesar da crescente sofisticação dos filtros baseados em IA, as plataformas ainda têm políticas frágeis em relação ao uso ético dessas ferramentas. O Instagram, por exemplo, permite a criação e distribuição de filtros por qualquer usuário por meio do Spark AR Studio, com uma aprovação básica automatizada. Isso torna possível que conteúdos altamente ofensivos escapem da moderação.>
Conteúdo sexual e fetichização de corpos com deficiência>
Um aspecto particularmente perturbador da tendência é o uso dos filtros em contextos eróticos. Alguns influenciadores digitais têm utilizado avatares gerados por IA com traços similares aos da trissomia 21 para publicar vídeos sexualizados, às vezes até com legendas insinuando que os personagens são “especiais” ou “puros”.>
Segundo o Coletivo Nacional de Pessoas com Deficiência Intelectual e suas Famílias, isso configura exploração simbólica e reforça a marginalização desse grupo. Não é só ofensivo. É perigoso. >
Pressão por mudança>
Após a repercussão de alguns casos, já há mobilizações para exigir que as plataformas removam filtros ofensivos e criem políticas mais rígidas sobre a representação de pessoas com deficiência. Petições online e campanhas com hashtags como #DownÉRespeito e #NãoÉFiltroÉViolência têm ganhado força.>
O uso de filtros que simulam a Síndrome de Down em conteúdos sexualizados é mais do que uma tendência problemática: é um reflexo das lacunas morais e regulatórias do mundo digital. À medida que a tecnologia avança, cresce também a urgência de protegê-la contra o uso discriminatório e desumanizante. O respeito à dignidade humana, especialmente das populações historicamente invisibilizadas, precisa estar no centro desse debate.>