Gilmar Mendes chama de 'incoerência' voto de Fux que absolveu Bolsonaro em julgamento do golpe

As declarações foram feitas nesta segunda-feira, 15, em São Paulo, durante a inauguração do instituto de ensino do qual Gilmar é sócio.

Publicado em 15 de setembro de 2025 às 17:37

Gilmar Mendes chama de 'incoerência' voto de Fux que absolveu Bolsonaro em julgamento do golpe.
Gilmar Mendes chama de 'incoerência' voto de Fux que absolveu Bolsonaro em julgamento do golpe. Crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) classificou como uma "incoerência" o voto divergente de Luiz Fux que absolveu Jair Bolsonaro dos crimes da trama golpista. 

"Eu não o vejo assim (que o projeto de Fux fortalece a anistia). Acho até, com todas as vênias, como vocês costumam dizer, que o voto do ministro Fux está prenhe de incoerências porque, a meu ver, se não houve golpe, não deveria ter havido condenação. Condenar o Cid e o Braga Netto e deixar todos os demais de fora parece uma contradição nos próprios termos", disse.

O ministro acrescentou que, se integrasse a Primeira Turma, teria acompanhado o voto do ministro Alexandre de Moraes de "maneira inequívoca" e afirmou que uma eventual aprovação do projeto de anistia é "ilegítima e inconstitucional". Mendes também comentou as falas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), durante o último ato de 7 de Setembro na Avenida Paulista, e disse que "todos sabem que não há tiranias nem ditadura no Brasil". Em tom irônico, questionou: "Quem assume uma posição tirânica no STF?".

Quanto às sanções impostas pelo governo americano, Gilmar classificou-as como "incabíveis" e disse não esperar novas reações dos Estados Unidos. "As sanções não afetam a vida institucional do País", afirmou. As declarações do ministro ocorrem em meio à ressaca do julgamento que condenou Bolsonaro. Na última sexta-feira, 11, a Primeira Turma do Supremo fixou pena de 27 anos e 3 meses de prisão ao ex-presidente, por 4 votos a 1.

A decisão alcançou todos os cinco crimes da denúncia: golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Um dos pontos mais comentados do julgamento foi o voto do ministro Luiz Fux, especialmente por marcar uma guinada em relação à sua atuação no julgamento dos envolvidos do 8 de Janeiro.

Se antes o ministro defendeu a competência do Supremo e acompanhou Alexandre de Moraes na condenação de mais de 600 réus por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado, agora votou pela absolvição de Bolsonaro e outros réus nesses mesmos crimes.

Em mais de 13 horas de voto, Fux abriu fissuras internas em nulidades processuais ao sustentar a "incompetência absoluta" do STF para julgar Bolsonaro, defendendo que o caso deveria tramitar na primeira instância e que todos os atos do processo seriam nulos. O ministro também apontou cerceamento de defesa, ao destacar o "tsunami de dados" que, segundo ele, inviabilizou a análise do material pelos advogados. Na prática, Fux aceitou as principais teses da defesa do ex-presidente.