Lula diz que envolvidos em fraudes no INSS serão investigados, inclusive familiares

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que todas as pessoas envolvidas no esquema de fraudes em aposentadorias e pensões do INSS serão investigadas e punidas, se houver comprovação de irregularidades. Segundo ele, nem mesmo familiares estariam acima da lei.

A declaração foi feita nesta quinta-feira, durante um café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. Lula foi questionado sobre as investigações da Polícia Federal e a suposta relação comercial entre seu filho, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, e Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, apontado como operador do esquema de desvios.

O presidente afirmou que parte das apurações ainda corre sob sigilo, mas reforçou que a investigação deve ser feita com seriedade e sem exceções. Segundo Lula, se houver qualquer envolvimento de pessoas próximas, incluindo um filho, elas também deverão ser investigadas.

Nesta quinta-feira, a Polícia Federal deflagrou mais uma fase da Operação Sem Desconto, que investiga descontos ilegais aplicados em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS. A nova etapa foi autorizada pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, que retirou o sigilo da decisão.

De acordo com o despacho, a Polícia Federal identificou cinco pagamentos de R$ 300 mil, somando R$ 1,5 milhão, feitos por uma empresa ligada ao Careca do INSS para a RL Consultoria e Intermediações Ltda., pertencente a outra investigada, Roberta Moreira Luchsinger. Em mensagens analisadas pela PF, há referência a um repasse que seria destinado ao “filho do rapaz”, embora a decisão judicial não esclareça quem seria essa pessoa.

As investigações também apontam conversas entre Roberta Luchsinger e o Careca do INSS demonstrando preocupação após uma fase anterior da operação. Em uma das mensagens, ela menciona a apreensão de um envelope com o nome de um “amigo”, e o investigado responde demonstrando apreensão. Em seguida, Roberta orienta que telefones fossem descartados.

A Operação Sem Desconto apura um esquema nacional de cobranças irregulares feitas diretamente nos benefícios de aposentados e pensionistas, sem autorização. Segundo a Polícia Federal, os desvios ocorreram entre 2019 e 2024 e podem chegar a R$ 6,3 bilhões.

Nesta nova fase, foram presos Romeu Carvalho Antunes, filho do Careca do INSS, e Eric Fidélis, filho do ex-diretor de Benefícios do INSS, André Fidélis. O ministro André Mendonça também determinou prisão domiciliar para Adroaldo Portal, ex-secretário-executivo do Ministério da Previdência, que foi exonerado após a operação.

A PF chegou a pedir a prisão do senador Weverton Rocha, mas a Procuradoria-Geral da República se posicionou contra. Mesmo assim, o parlamentar foi alvo de mandado de busca e apreensão. Ele é citado nas investigações como beneficiário dos desvios e como apoio político do grupo. Em nota, Weverton afirmou ter recebido a ação com surpresa e disse estar à disposição para prestar esclarecimentos.

Ao todo, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União cumprem dezenas de mandados de busca, prisões preventivas e outras medidas em diversos estados e no Distrito Federal.

O esquema veio à tona em abril, quando a PF revelou que associações descontavam mensalidades dos benefícios do INSS como se aposentados tivessem autorizado filiações, o que não aconteceu. As entidades alegavam oferecer serviços e vantagens, mas não tinham estrutura para isso. Onze associações foram alvo das investigações, e os contratos com aposentados e pensionistas foram suspensos.

A crise provocada pela operação levou à saída do então ministro da Previdência, Carlos Lupi, que foi substituído por Wolney Queiroz, atual titular da pasta.