Pesquisa aponta que 46% das crianças já apresenta sinais de adoecimento digital

Levantamento aponta assédio, pouca supervisão e presença de crianças muito pequenas nas redes sociais.

Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 07:32

Pesquisa revela que 46% das crianças já apresenta sinais de adoecimento digital
Pesquisa revela que 46% das crianças já apresenta sinais de adoecimento digital Crédito: Reprodução/Redes Sociais

Uma nova pesquisa do Projeto Brief expõe um panorama preocupante sobre o comportamento digital de crianças e adolescentes no Brasil. O levantamento, realizado com 1.800 pais e responsáveis, indica que a exposição prolongada às telas já provoca efeitos diretos na saúde emocional dos menores: 46% deles apresentam irritabilidade, ansiedade ou dificuldade de concentração devido ao tempo online.

O estudo, intitulado “120 dias depois do viral do Felca: o retrato da Adultização no Brasil”, investigou também o apoio a medidas de regulamentação das redes sociais e a percepção das famílias sobre os riscos digitais. A pesquisa surge em meio ao debate público ampliado após denúncias de exploração infantil envolvendo criadores de conteúdo, caso que ganhou força após o influenciador Felca expor situações como a de Hytalo Santos.

Acesso cada vez mais cedo e sem supervisão adequada

O levantamento aponta que o uso das redes sociais está presente em todas as faixas etárias:

• 77% das crianças e adolescentes já possuem celular próprio;

• 73% têm ao menos um perfil ativo nas redes;

• entre 13 e 18 anos, o índice chega a 91%;

• e até 28% dos menores de 7 anos já estão conectados em plataformas que deveriam ser restritas.

Além do acesso precoce, a falta de acompanhamento é evidente. Segundo os pais:

• 35% das crianças publicam conteúdo sem supervisão;

• apenas 37% dominam ferramentas de controle parental;

• 45% conhecem o recurso, mas não o utilizam;

• e 18% jamais tiveram contato com esse tipo de proteção.

Riscos e vulnerabilidade digital

Uma dimensão ainda mais grave revelada pelo estudo é a violência online. Oito por cento dos responsáveis relataram que seus filhos sofreram assédio ou abuso digital, percentual que dobra entre meninas de 13 a 15 anos.

Os responsáveis entrevistados dividem a responsabilidade pela segurança online das crianças entre diferentes setores da sociedade:

• Pais e mães – 82%

• Plataformas digitais – 76%

• Governo – 61%

• Influenciadores – 37%

• Escolas – 32%

Apesar disso, a pesquisa revela que o desconhecimento sobre o ECA Digital ainda é grande: apenas 36% das famílias afirmam saber o que determina a legislação que amplia a proteção de menores na internet.

Os entrevistados também avaliaram possíveis ações de proteção implementadas por aplicativos e redes sociais. As medidas mais bem avaliadas foram:

• Verificação de identidade dos usuários – 72%;

• Relatórios de uso enviados aos responsáveis – 63%;

• Restrições a comentários para perfis de menores – 54%;

• Limitação de tempo de uso – 46%.

O conjunto de dados, segundo o Projeto Brief, reforça a urgência de políticas que abordem o fenômeno da adultização, aliando regulação, educação digital e participação ativa das famílias.