PF flagra comissionada da Assembleia de Roraima com R$ 500 mil em dinheiro vivo

Investigação aponta que servidora é mãe de deputada estadual e realizou saques milionários ao longo de meses

Publicado em 24 de dezembro de 2025 às 08:31

PF flagra comissionada da Assembleia de Roraima com R$ 500 mil em dinheiro vivo
PF flagra comissionada da Assembleia de Roraima com R$ 500 mil em dinheiro vivo Crédito: Reprodução/Assembleia Legislativa de Roraima

A investigação que apura a apreensão de R$ 500 mil em espécie com uma servidora da Assembleia Legislativa de Roraima revelou um histórico de movimentações financeiras expressivas e levantou questionamentos sobre a rotina de trabalho e a estrutura administrativa do Legislativo estadual. A funcionária, de 75 anos, ocupa cargo comissionado desde janeiro de 2024 e é mãe da deputada estadual Angela Portella (PP-RR).

De acordo com informações apresentadas pela defesa, retiradas de grandes quantias em dinheiro eram frequentes e não estariam restritas a períodos eleitorais. Extratos bancários anexados ao processo indicam saques que somam R$ 2,15 milhões entre abril e julho do ano passado, todos realizados em dias úteis. Os advogados sustentam que os valores teriam origem lícita e seriam destinados ao pagamento de fornecedores e serviços ligados a contratos públicos.

Além do cargo na Assembleia, a servidora também atuava como procuradora de uma empresa de construção pertencente ao filho, que mantém contratos com o governo estadual. Na época da apreensão, em setembro, ela ocupava a função de diretora-executiva de Atendimento Comunitário, com salário mensal de R$ 12 mil. Um ano depois, foi realocada para o posto de assessora técnica no mesmo setor, com remuneração reduzida para R$ 2.520.

Após a retenção do dinheiro, a funcionária recorreu à Justiça para tentar reaver os valores, solicitando prioridade na tramitação por causa da idade e o benefício da gratuidade judicial, sob alegação de insuficiência de recursos. Até o fim de novembro, o pedido seguia em análise, enquanto o caso continuava sob apuração.

O episódio ocorre em um contexto mais amplo de questionamentos sobre a folha de pagamento da Assembleia Legislativa de Roraima. Levantamentos apontam a existência de 4.334 servidores comissionados, entre eles parentes de parlamentares, líderes religiosos e profissionais de áreas diversas. Em agosto, o Legislativo desembolsou cerca de R$ 17 milhões apenas com cargos de confiança que atuam nos gabinetes dos 24 deputados estaduais.

Procurada, a deputada Angela Portella não se manifestou sobre o caso. Em nota, a Assembleia afirmou que sua estrutura de pessoal é necessária para garantir o funcionamento de gabinetes, programas institucionais e 22 comissões permanentes, que, juntas, contam com mais de 700 comissionados. A Casa declarou ainda que não tolera irregularidades e que o controle de jornada é responsabilidade das unidades administrativas.