Registros revelam suposto esquema na PM para fraudar imagens de câmeras corporais

Major da PM é suspeita de deletar imagens de câmera corporal em operação que resultou em morte; sistema teria falhas que permitem alteração de permissões e exclusão de vídeos por usuários internos.

Publicado em 28 de julho de 2025 às 07:57

Agência Brasil 
Agência Brasil  Crédito: Reprodução 

Informações extraídas da plataforma Evidence, utilizada pela Polícia Militar de São Paulo para armazenar as gravações das câmeras corporais dos agentes, indicam um possível esquema interno de fraude e manipulação de dados, com exclusão proposital de vídeos por meio de usuários anônimos dentro do sistema.

O site Metrópoles teve acesso, com exclusividade, a registros que mostram o envolvimento da major Adriana Leandro de Araújo, ligada à alta cúpula da corporação, na suposta deleção de imagens de uma operação que terminou em homicídio no litoral paulista. A ação ocorreu no dia 9 de março de 2024, durante a Operação Verão, no Morro do José Menino, em Santos (SP).

Na ocasião, Joselito dos Santos Vieira, de 47 anos, foi morto com três disparos de fuzil e nove de pistola, em um suposto confronto com PMs. Entretanto, familiares da vítima afirmaram à reportagem, na época, que Joselito não possuía arma de fogo. O caso, investigado e arquivado em junho de 2024, ainda levanta dúvidas sobre a veracidade da versão oficial apresentada pela corporação.

Segundo os registros obtidos, ao menos seis policiais militares estavam presentes na ação. Entre eles, o então coordenador operacional da PM, Gentil Epaminondas Carvalho, e o coronel Carvalho, terceiro na hierarquia da corporação. A major Adriana seria subordinada diretamente ao coronel e, conforme o sistema, teria atuado para remover as gravações da plataforma após o ocorrido.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) confirmou que a denúncia está sendo apurada por meio de uma sindicância interna na Polícia Militar.

Especialista em provas digitais e ex-soldado da PM, Bruno Dias explicou ao Metrópoles que o sistema Evidence possui diversas vulnerabilidades que permitem manipulação das imagens. Segundo ele, a plataforma tem uma função chamada “alterar a permissão”, que autoriza o próprio usuário a se tornar administrador do sistema.

“O sistema tem inúmeras vulnerabilidades. É totalmente passível de fraude. Um policial pode alterar a própria permissão, se colocar como administrador do sistema e fazer o que ele quiser. Em torno de seis policiais por batalhão poderiam fazer isso”, alertou Bruno Dias.

O caso reacende o debate sobre a segurança digital dos dados gerados por câmeras corporais, consideradas essenciais para transparência, controle da ação policial e preservação de provas em ocorrências com mortes

Com informações de Metrópoles