Toffoli viaja em jato particular com advogado do caso Master

Ministro do STF viajou ao Peru para assistir à final da Libertadores ao lado de um dos defensores de investigado no caso Banco Master.

Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 09:33

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). Crédito: Rosinei Coutinho/ STF

A presença do ministro Dias Toffoli, relator da investigação sobre possíveis fraudes financeiras ligadas ao Banco Master, em um voo particular ao lado de um dos advogados do caso reacendeu debates sobre conflitos de interesse no Supremo Tribunal Federal. A viagem, realizada na última semana de novembro, ocorreu dias antes de o ministro impor sigilo rígido ao inquérito que envolve figuras centrais da instituição financeira.

O deslocamento, feito no jatinho do empresário Luiz Osvaldo Pastore, levou Toffoli para Lima, no Peru, onde ele acompanhou, em 28 de novembro, a final da Taça Libertadores da América entre Palmeiras e Flamengo, partida vencida pelos cariocas. O retorno ao Brasil ocorreu dois dias depois, em 30 de novembro.

Ao lado do ministro estava o advogado Augusto Arruda Botelho, que atua na defesa de Luiz Antonio Bull, diretor de compliance do Master e alvo da investigação conduzida pela Polícia Federal. Também embarcaram o filho de Botelho, o ex-ministro Aldo Rebelo e outros 11 passageiros. A revelação da viagem foi feita inicialmente por O Globo e confirmada pela CNN.

Sigilo decretado dias após o retorno

Apenas dois dias após desembarcar em Brasília, Toffoli determinou que a apuração, que mira principalmente o presidente do banco, Daniel Vorcaro, tramitasse sob sigilo extremo. A decisão ampliou o debate sobre a proximidade entre atores do processo e o ministro responsável por julgá-lo.

Fontes próximas ao ministro afirmam que ele é amigo antigo de Pastore, dono da aeronave, mas que não mantém relação de proximidade com Botelho. Segundo essas mesmas pessoas, o assunto da viagem teria sido exclusivamente futebol, em razão da expectativa pela final da Libertadores. Toffoli também teria dito que o pedido de Vorcaro ainda não havia sido distribuído ao seu gabinete no momento da viagem, negando qualquer impacto sobre sua atuação no processo.

Até o momento, o ministro não considera a possibilidade de se declarar suspeito ou impedido para seguir à frente do caso.

Desdobramentos do caso Master

A investigação apura suspeitas de irregularidades financeiras envolvendo o Banco Master e já alcançou o presidente da instituição, Daniel Vorcaro, e o diretor Luiz Antonio Bull, ambos soltos pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região e atualmente monitorados por tornozeleira eletrônica.

Na quarta-feira (03), Toffoli decidiu que o STF deve assumir a supervisão integral do inquérito, retirando-o da primeira instância. A justificativa foi a citação do deputado federal João Carlos Bacelar (PL-BA), que, por ter foro privilegiado, atrai a competência da Corte. Bacelar aparece em um contrato imobiliário apreendido pela PF. Em nota, o parlamentar afirmou ter participado de um fundo imobiliário e que Vorcaro demonstrou interesse no negócio, mas a operação não avançou.

Reações silenciosas

Apesar da repercussão política e jurídica da viagem, nem Toffoli nem Botelho comentaram publicamente o episódio. O silêncio ocorre no momento em que a investigação avança e o sigilo imposto impede que novas informações venham a público.