Toxina de escorpião da Amazônia mostra potencial para combater câncer de mama

Molécula isolada por pesquisadores da USP apresentou desempenho semelhante ao de medicamento usado na quimioterapia; estudo ainda em fase inicial

Publicado em 19 de junho de 2025 às 09:38

Escorpião da Amazônia - 
Escorpião da Amazônia -  Crédito: Pedro Ferreira Bisneto/iNaturalist/Fapesp

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram no veneno de um escorpião típico da Amazônia uma molécula capaz de matar células do câncer de mama. Os resultados preliminares foram obtidos em testes in vitro realizados na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP).

O composto foi extraído da peçonha do Brotheas amazonicus, espécie encontrada na região amazônica, e recebeu o nome de BamazScplp1. Segundo os estudos, a substância apresentou ação semelhante à do paclitaxel, um dos quimioterápicos mais utilizados no tratamento desse tipo de câncer.

“Conseguimos identificar uma molécula nessa espécie amazônica que é semelhante à encontrada em peçonhas de outros escorpiões e com ação contra as células do câncer de mama”, explicou a professora Eliane Candiani Arantes, coordenadora do projeto, em entrevista à Agência FAPESP.

Durante os experimentos, o composto levou à morte das células tumorais principalmente por necrose. Os resultados foram apresentados durante a FAPESP Week França, evento realizado em Toulouse, na França, entre 10 e 12 de junho.

O estudo é fruto de uma colaboração entre a USP, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Agora, os pesquisadores trabalham para reproduzir a molécula em laboratório, evitando a necessidade de extrair o veneno diretamente dos animais.

Os cientistas reforçam que o uso terapêutico só é possível com a molécula isolada e que o contato direto com escorpiões representa risco à saúde.

Próximos passos

A descoberta integra uma série de iniciativas que buscam utilizar a biodiversidade brasileira como fonte para novos tratamentos médicos. Apesar de os testes ainda estarem na fase inicial, os pesquisadores esperam avançar para estudos mais profundos e, futuramente, testes clínicos.

Se os resultados se confirmarem nas próximas etapas, a toxina poderá se transformar em uma nova aliada no combate ao câncer de mama.