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Publicado em 20 de maio de 2025 às 08:43
Recife e Belém disputaram no Congresso a paternidade do “brega”, o gênero musical que não se envergonha de bradar a infelicidade amorosa e se tornou motivo de orgulho para as duas capitais. O Senado aprovou o projeto de lei que concede a Recife o título de Capital Nacional do Brega e os belenenses reivindicaram o posto, travando um duelo no Congresso para decidir qual é a capital nacional do estilo.>
O texto do projeto foi aprovado na Comissão de Educação do Senado e já pode ir à sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas, nesta segunda-feira (19), o senador paraense Beto Faro (PT) encaminhou um recurso para levar à discussão do projeto ao plenário. Ele quer que a iniciativa contemple as duas capitais.>
"Belém tem uma trajetória histórica no desenvolvimento desse gênero musical. Vem da guitarrada, da batida indígena, do bolero, do carimbo e da lambada", argumenta Faro.>
O relator do texto no Senado, o senador Humberto Costa (PT-PE), será procurado por Faro em busca de um consenso. Na semana passada, quando o texto foi aprovado, ele destacou a importância cultural e econômica do movimento.>
"No Recife, o brega não é somente uma atividade cultural relevante, mas também uma atividade econômica relevante. E foi um gênero que cumpriu papel de resistência na ditadura militar, o movimento brega conhecido para uma população importante. Odair José foi o cantor mais censurado pela ditadura", discorreu Costa.>
No Recife, o gênero teve em Reginaldo Rossi, morto em 2013, sua grande voz. Depois vieram cantoras como Priscila Senna e Michele Mello. Hoje, o bregafunk arrasta multidões com MC Loma, MC Elvis e MC Neiff. Até o famoso carnaval pernambucano tem espaço dedicado ao gênero, e o festival Recife Capital do Brega é um dos eventos anuais da cidade. A estética do “brega lifestyle” é tão forte que bares como Confraria dos Chifrudos e Bar dos Cornos realizam eleições de “chifrudo do ano”, em tom bem-humorado.>
A importância do brega foi reconhecida até pelo prefeito João Campos (PSB), que já dançou no palco com cabelo descolorido e óculos Juliette e adota o ritmo do brega funk em seus vídeos desde as eleições de 2020. Seu irmão mais novo, o deputado federal Pedro Campos (PSB), foi o autor da lei que criou o Dia Nacional do Brega — 14 de fevereiro, data de nascimento de Reginaldo Rossi.>
Para pesquisadores musicais, ambos os estados são referências do movimento, cada um com sua particularidade, dificultando a seleção de apenas um como o verdadeiro berço do estilo musical. Enquanto movimenta a cultura do Recife, o brega também mostra sua força em Belém. Desde a década de 70 o ritmo ditava as festas de aparelhagem, nome dado às grandes estruturas de luz e de quem se tornou pólo cultural e social especialmente nas periferias. Hoje, o tecnobrega é reconhecido internacionalmente, e em 2023 a cantora Gaby Amarantos foi premiada com o Grammy Latino por seu álbum "Tecnhoshow".>
Em Pernambuco, a música passou pelo eixo seresteiro e romântica até chegar à batida acelerada do bregafunk, com letras mais sexualizadas. Já em Belém, ela é mais ligada à produção latino-americana, com influência caribenha e da cúmbia. Em geral o brega tem o amor como um tema, e por um bom tempo também teve o teclado como o seu instrumento primordial. Mas hoje a gente tem essa coisa muito agradável, embora amor, sofrimento e chifre sejam temas que unem muitos deles.>
Entenda as diferenças entre os estados>
• Recife: O brega surgiu pela seresta e as canções românticas, até chegar no brega funk. O instrumento principal é o teclado. Na estética, a influência maior é o forró, com o uso de dançarinos em grupos.>
• Belém: É centrado na aparelhagem e nos ritmos latinos, com a “guitarrada”, famosa nas mãos de Chimbinha, do Calypso, que, como banda liderada por um homem e uma mulher, tinha a formação clássica no Pará.>