Colapso nas agências de publicidade: o fim de uma era ou o início de outra?

A revolução tecnológica e cultural mudou tudo: quem comunica, como se comunica e, principalmente, com que ferramentas.

Publicado em 24 de junho de 2025 às 08:51

A revolução tecnológica e cultural mudou tudo: quem comunica, como se comunica e, principalmente, com que ferramentas.
A revolução tecnológica e cultural mudou tudo: quem comunica, como se comunica e, principalmente, com que ferramentas. Crédito: Carolina Guimarães/Roma News

A publicidade tradicional está em crise. O modelo das grandes agências, que por décadas ditaram as regras do jogo com campanhas milionárias, prazos longos e equipes robustas, está ficando para trás diante de uma nova realidade digital. A revolução tecnológica e cultural mudou tudo: quem comunica, como se comunica e, principalmente, com que ferramentas.

Para entender melhor esse momento de virada, o Roma News conversou com Marcus Dickson, professor universitário há 14 anos, mestre e doutorando em comunicação pela Universidade Federal do Pará (UFPA) com MBA em Marketing Digital, que acompanha de perto essa transformação no mercado. 

“A ideia de ‘fim da era da publicidade e propaganda’ não significa exatamente a extinção do campo, mas sim uma profunda mutação, quase uma metamorfose forçada por tecnologias, novos hábitos de consumo, mudanças culturais e o surgimento de novos protagonistas no jogo da comunicação”, explica Dickson.

O que está ruindo?

Na visão do professor, o que está colapsando é o modelo centralizado, caro e hierárquico das agências full service, aquelas que entregavam tudo, do briefing ao relatório final, e concentravam o poder da comunicação nas mãos de poucos.

Atualmente, esse poder está muito mais diluído. Criadores de conteúdo com um celular na mão, inteligência artificial que faz arte e roteiro em minutos, e plataformas como Google, Meta e TikTok que permitem impulsionar anúncios com poucos cliques tornaram o processo mais simples, mais direto e, claro, mais acessível.

“Qualquer pessoa com talento e consistência pode conquistar audiência e atuar como marca, mídia e agência ao mesmo tempo”, reforça Dickson. “Isso criou um ambiente criativo descentralizado, fragmentado e hiperpersonalizado, que reduziu o poder de barganha das agências tradicionais.”

As 5 grandes mudanças da publicidade

Segundo o professor, os últimos 10 anos provocaram uma verdadeira revolução na forma de se comunicar. Ele destaca cinco transformações fundamentais:

1. Conteúdo no lugar do anúncio: Marcas hoje precisam gerar valor contínuo com conteúdos relevantes, não apenas slogans criativos.

2. Influência descentralizada: Microinfluenciadores e criadores conquistaram confiança e engajamento como novos porta-vozes.

3. Resultados mensuráveis: Campanhas são testadas, automatizadas e ajustadas em tempo real.

4. Atenção como moeda: O desafio não é mais aparecer, é prender a atenção do público com boas histórias.

5. Reinvenção das agências: Algumas se transformaram em núcleos de dados e estratégia. Outras não conseguiram acompanhar.

O que se ganha e o que se perde

A nova fase da comunicação trouxe diversos pontos positivos:

• Mais acessibilidade: Ferramentas poderosas estão nas mãos de pequenos empreendedores e criadores.

• Mais diversidade: A descentralização abriu espaço para novas vozes e narrativas.

• Mais agilidade: Campanhas podem ser criadas, testadas e adaptadas em tempo recorde.

Mas nem tudo são flores. Como ressalta Marcus Dickson, há também riscos sérios nesse novo cenário:

• Precarização do trabalho criativo: Muitos criadores trabalham sob pressão constante por performance e visibilidade.

• Perda de profundidade estratégica: A pressa pode esvaziar o pensamento de marca no longo prazo.

• Criatividade diluída: IA e automação produzem rápido, mas nem sempre de forma original.

Comunicação criativa está mais viva do que nunca

Apesar do colapso da velha publicidade, Dickson é enfático: “A era da comunicação criativa está mais viva do que nunca. Quem entender que a propaganda agora se dá em rede, em tempo real, com múltiplas vozes e ferramentas, vai continuar relevante, seja como agência, como criador ou como marca.”

O futuro, segundo ele, está em encontrar o equilíbrio entre tecnologia e humanidade, automação e estratégia, dados e sensibilidade cultural.

Ou seja: não é o fim da publicidade. É o começo de outra, talvez mais complexa, mas também mais democrática e inventiva.