Publicado em 24 de junho de 2025 às 08:51
A publicidade tradicional está em crise. O modelo das grandes agências, que por décadas ditaram as regras do jogo com campanhas milionárias, prazos longos e equipes robustas, está ficando para trás diante de uma nova realidade digital. A revolução tecnológica e cultural mudou tudo: quem comunica, como se comunica e, principalmente, com que ferramentas.>
Para entender melhor esse momento de virada, o Roma News conversou com Marcus Dickson, professor universitário há 14 anos, mestre e doutorando em comunicação pela Universidade Federal do Pará (UFPA) com MBA em Marketing Digital, que acompanha de perto essa transformação no mercado. >
“A ideia de ‘fim da era da publicidade e propaganda’ não significa exatamente a extinção do campo, mas sim uma profunda mutação, quase uma metamorfose forçada por tecnologias, novos hábitos de consumo, mudanças culturais e o surgimento de novos protagonistas no jogo da comunicação”, explica Dickson.>
O que está ruindo?>
Na visão do professor, o que está colapsando é o modelo centralizado, caro e hierárquico das agências full service, aquelas que entregavam tudo, do briefing ao relatório final, e concentravam o poder da comunicação nas mãos de poucos.>
Atualmente, esse poder está muito mais diluído. Criadores de conteúdo com um celular na mão, inteligência artificial que faz arte e roteiro em minutos, e plataformas como Google, Meta e TikTok que permitem impulsionar anúncios com poucos cliques tornaram o processo mais simples, mais direto e, claro, mais acessível.>
“Qualquer pessoa com talento e consistência pode conquistar audiência e atuar como marca, mídia e agência ao mesmo tempo”, reforça Dickson. “Isso criou um ambiente criativo descentralizado, fragmentado e hiperpersonalizado, que reduziu o poder de barganha das agências tradicionais.”>
As 5 grandes mudanças da publicidade>
Segundo o professor, os últimos 10 anos provocaram uma verdadeira revolução na forma de se comunicar. Ele destaca cinco transformações fundamentais:>
1. Conteúdo no lugar do anúncio: Marcas hoje precisam gerar valor contínuo com conteúdos relevantes, não apenas slogans criativos.>
2. Influência descentralizada: Microinfluenciadores e criadores conquistaram confiança e engajamento como novos porta-vozes.>
3. Resultados mensuráveis: Campanhas são testadas, automatizadas e ajustadas em tempo real.>
4. Atenção como moeda: O desafio não é mais aparecer, é prender a atenção do público com boas histórias.>
5. Reinvenção das agências: Algumas se transformaram em núcleos de dados e estratégia. Outras não conseguiram acompanhar.>
O que se ganha e o que se perde>
A nova fase da comunicação trouxe diversos pontos positivos:>
• Mais acessibilidade: Ferramentas poderosas estão nas mãos de pequenos empreendedores e criadores.>
• Mais diversidade: A descentralização abriu espaço para novas vozes e narrativas.>
• Mais agilidade: Campanhas podem ser criadas, testadas e adaptadas em tempo recorde.>
Mas nem tudo são flores. Como ressalta Marcus Dickson, há também riscos sérios nesse novo cenário:>
• Precarização do trabalho criativo: Muitos criadores trabalham sob pressão constante por performance e visibilidade.>
• Perda de profundidade estratégica: A pressa pode esvaziar o pensamento de marca no longo prazo.>
• Criatividade diluída: IA e automação produzem rápido, mas nem sempre de forma original.>
Comunicação criativa está mais viva do que nunca>
Apesar do colapso da velha publicidade, Dickson é enfático: “A era da comunicação criativa está mais viva do que nunca. Quem entender que a propaganda agora se dá em rede, em tempo real, com múltiplas vozes e ferramentas, vai continuar relevante, seja como agência, como criador ou como marca.”>
O futuro, segundo ele, está em encontrar o equilíbrio entre tecnologia e humanidade, automação e estratégia, dados e sensibilidade cultural.>
Ou seja: não é o fim da publicidade. É o começo de outra, talvez mais complexa, mas também mais democrática e inventiva.>