'Crime da Mala' revive tragédia em Belém: dois casos separados por 50 anos e o mesmo horror

A morte do menino Paulo Guilherme, encontrado em uma mala em frente, resgatou na memória dos paraenses o brutal assassinato da menina Diene Ellen, ocorrido em 1973 no mesmo bairro.

Publicado em 28 de outubro de 2025 às 18:24

'Crime da Mala' revive tragédia em Belém: dois casos separados por 50 anos e o mesmo horror
'Crime da Mala' revive tragédia em Belém: dois casos separados por 50 anos e o mesmo horror Crédito: Reprodução

Cinco décadas separam os dois episódios, mas a semelhança entre eles é impossível de ignorar. O bairro da Marambaia, em Belém, voltou a ser palco de um crime que chocou o Pará: o corpo de uma criança encontrado em uma mala. Em 1973, foi a pequena Diene Ellen, de apenas dois anos. Em 2024, o menino Paulo Guilherme da Silva Guerra, de seis. Ambos os casos ocorreram a poucos metros do Cemitério São Jorge, e ambos deixaram marcas profundas na história e na memória coletiva da capital paraense.

Na segunda-feira (27), moradores da região encontraram uma mala preta abandonada em frente ao cemitério. Dentro dela estava o corpo de Paulo Guilherme, desaparecido desde a noite anterior. O menino tinha as mãos amarradas e, segundo laudo preliminar da Polícia Científica do Pará, apresentava sinais de asfixia mecânica, possivelmente estrangulamento. Junto do corpo, os peritos localizaram uma luva de boxe, que pode ter sido usada no crime.

O principal suspeito, George Hamilton dos Santos Gonçalves, era vizinho da vítima e tinha histórico de violência sexual contra menores, com duas passagens pela polícia, uma em 2004 e outra em 2016. Fotos de crianças foram encontradas no celular dele. Horas após a descoberta do corpo, George foi linchado por moradores revoltados e não resistiu aos ferimentos.

A brutalidade e o simbolismo da cena revisitaram lembranças do chamado “Crime da Mala”, ocorrido há exatos 51 anos, também na Marambaia. Na época, a menina Diene Ellen foi estuprada, assassinada e esquartejada pelo próprio pai, Raimundo, conhecido como “Raimundo Sapateiro”. Ele escondeu os restos mortais da filha em uma mala e tentou despachá-la de ônibus para o interior do Estado, mas o odor denunciou o crime.

O então delegado Armando Mourão, responsável pela investigação em 1973, relembrou em entrevistas que o caso foi um dos mais marcantes de sua carreira. “Ele violentou e matou a própria filha. A mala exalava um cheiro forte e, quando foi aberta, revelou uma das cenas mais tristes que vi na polícia”, contou Mourão, hoje aposentado.

Com o passar dos anos, o túmulo de Diene Ellen, localizado justamente no Cemitério São Jorge, transformou-se em um santuário popular. Moradores e devotos afirmam ter recebido graças e milagres atribuídos à menina, e o local é visitado até hoje, repleto de flores, brinquedos e bilhetes de fé.

Agora, meio século depois, a coincidência trágica volta a assustar a população. As semelhanças entre os dois casos, a idade das vítimas, o local, a mala e o destino em frente ao mesmo cemitério, provocam uma mistura de perplexidade e medo. Para muitos moradores antigos, é como se o bairro revivesse um pesadelo.

Enquanto o corpo de Paulo Guilherme é velado, o nome de Diene Ellen volta a ser lembrado, não como um fantasma do passado, mas como um símbolo da dor que insiste em se repetir. Dois crimes separados por 50 anos, mas unidos por um mesmo padrão de crueldade que o tempo não conseguiu apagar.