Da plantação à barra: chocolate artesanal do Pará preserva floresta e gera renda familiar

Na Colônia Chicano, em Santa Bárbara, uma iniciativa familiar tem transformando o cacau paraense em chocolate artesanal de excelência. Na Bada Chocolateria, a produção começa no cultivo agroflorestal e vai até a barra final, carregando os sabores, saberes e a força da floresta amazônica. À frente do negócio, Fernanda Sahaba, 34 anos. A empreendedora destaca o valor da agricultura familiar, a importância da preservação ambiental e o reconhecimento crescente dos chocolates feitos no Pará.

“No início, a ideia era apenas vender as amêndoas, mas nos apaixonamos pelo chocolate artesanal e começamos a investir nisso também”, conta Fernanda Sahaba, 34 anos.

Cacau paraense: sabor único da floresta

Para Fernanda, o cacau do Pará é inconfundível. “Ele tem notas fortes e características que o diferenciam de qualquer outro cacau do mundo. Isso fica ainda mais perceptível nos derivados”, explica.

Esse diferencial está ligado diretamente ao conjunto de fatores ambientais da região amazônica e à própria floresta em pé. O cacau é uma planta sensível, que precisa de sombra e equilíbrio ambiental para se desenvolver plenamente. “Preservar a floresta é garantir a qualidade do cacau. Nosso sistema agroflorestal é essencial para isso.”

Agricultura familiar e empoderamento feminino

Mais de 70% da produção de cacau e chocolate no Pará vem de empreendimentos ligados à agricultura familiar. E as mulheres têm assumido papel de destaque nesse cenário.

“O chocolate que fazemos vai além da barra. Cada pedaço carrega nossa história, cultura e a própria floresta”, afirma Fernanda, que enxerga o reconhecimento crescente dos produtos paraenses no Brasil e no mundo.

Desafios e esperanças

Apesar do potencial, os produtores enfrentam desafios associados as mudanças climáticas. Fernanda reforça a importância do apoio governamental: “Temos o suporte da CEPLAC, e acreditamos que instituições como a Funcacau e a SEDAP podem ampliar os investimentos e ajudar o setor a crescer ainda mais”.

Segundo ela, o caminho passa também pelo orgulho regional: “Precisamos, antes de tudo, ser valorizados dentro do nosso próprio estado. Só assim ganharemos força para conquistar o mundo”.

Pará, potência do cacau

Segundo levantamento feito pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca (SEDAP) o Pará é hoje o maior produtor de cacau do Brasil, responsável por 51% da produção nacional, sendo que 99% desse total é cultivado em sistemas agroflorestais — uma prática que recupera áreas degradadas e protege a biodiversidade.

Os três municípios líderes na produção são:

Medicilândia: 44,18 mil toneladas

• Uruará: 21,27 mil toneladas

• Placas: 12,79 mil toneladas

Mesmo com as incertezas causadas pelas mudanças climáticas, Fernanda é otimista: “As projeções indicam crescimento. Estamos no começo da nossa jornada e, com apoio e valorização, vamos colocar o chocolate paraense entre os melhores do mundo.”