‘Desespero total’, diz garçonete aprovada em medicina com matrícula recusada pela UFPA

Lívia Letícia teve o sonho de ser médica frustrado ao ter a matrícula recusada pela Universidade Federal do Pará (UFPA). O caso ganhou destaque nas redes sociais na última quinta-feira, 16. Em entrevista exclusiva ao Portal Roma News, Lívia Letícia contou a sua história e recebeu a notícia de que não poderia cursar...

Publicado em 26 de junho de 2024 às 08:11

Lívia Letícia teve o sonho de ser médica frustrado ao ter a matrícula recusada pela Universidade Federal do Pará (UFPA). O caso ganhou destaque nas redes sociais na última quinta-feira, 16. Em entrevista exclusiva ao Portal Roma News, Lívia Letícia contou a sua história e recebeu a notícia de que não poderia cursar medicina.

'Foi apenas desespero total. Eu recebi a informação as 5hrs da madrugada de sábado, quando me arrumava para trabalhar. Não lembro muito bem o que passou exatamente pela aquela manhã. Foi um choque. Entrei em contato com todos que eu pensava que poderiam me ajudar. Eu não queria desistir, mas eu me senti tão fraca e impotente naquele momento, não tinha sido fácil chegar até ali', destacou Lívia.

A estudante, que tem 20 anos, sempre gostou da área de medicina, mas nunca pensou em exercer a função. Tudo mudou quando, em 2020, ela começou a acompanhar o avô que ficou doente e precisava de cuidados médicos. 'Eu tinha um receio quanto a área. Mas infelizmente, em 2020, minha vida virou de cabeça pra baixo. O que já estava difícil, ficou ainda mais. Comecei a ter mais contato com as áreas da medicina, enquanto acompanhava meu avô, e acabei me apaixonando cada vez mais pela área. E ela se tornou meu objetivo de vida', lembrou.

Vinda de família humilde, a garçonete foi criada pelos avós, a quem dedica muito amor e cuidado. Lívia tem mais quatro irmãos mais novos, dois moram com ela. A estudante trabalha para ajudar em casa desde os 14 anos. 'Já fiz várias coisas. Comprava lingerie para revender. Fazia tiaras, laços, desenhos, designers, banners, maquiagem. Trabalhei informalmente como recepcionista, em pastelaria, vendia brigadeiros na escola e pelo meu bairro. Estagiei no ministério público. Fiz de tudo que eu podia fazer', contou.

A estudante contou como é o dia-a-dia da família e as dificuldades financeiras enfrentadas. 'A situação do meu avô é delicada. Ele precisa de fraldas e remédios, diariamente. Então toda nossa renda é muito pequena quando se trata de tamanho problema, recebemos algumas doações sempre, mas ainda assim às vezes as coisas apertam muito, a ponto de já termos (eu e a minha avó) passado um dia inteiro de fome, para comprar alimentação para ele, que se alimenta através de sonda', disse.

Ela conseguiu o trabalho de garçonete a pouco mais de um mês e conta que recebeu todo o apoio dos chefes. 'Esse emprego de garçonete, consegui recentemente. Fui muito bem acolhida lá. No momento já saí do restaurante, com todo apoio dos donos de lá, para poder correr atrás de justiça'.

Estudos

Segundo Lívia, se dedicar aos estudos não foi fácil. 'A rotina de estudos era inexistente. Eu conseguia, às vezes meia hora, ou menos, durante o dia, para ler algo, estudar algo. Às vezes eu aproveitava até mesmo os dias em que eu estava doente, para estudar. Já que nem poderia trabalhar. Quando ia para o hospital com meu avô, assistia algumas vídeo-aulas, mas infelizmente minha situação financeira não me deixava parar para dedicar muito mais que isso', revelou.

Boa aluna, ela sempre tirou notas altas na escola. 'Dedicava todo meu tempo e esforço nos estudos. Não conseguia estudar o tanto que eu queria, estava sempre me cobrando, sinto ainda que fiz muito pouco. Então nunca imaginei que fosse realmente passar. Mesmo através das cotas'.