Dor inominável: ressignificando o Dia das Mães após a perda de um filho

Ana Maria Belém conta sobre como lida e ressignifica a ausência da filha que partiu há 8 meses.

Publicado em 11 de maio de 2025 às 00:02

Foto de 2019 onde Thaís Belém abraça a mãe Ana Maria Belém no dia de sua formatura em jornalismo. 
Foto de 2019 onde Thaís Belém abraça a mãe Ana Maria Belém no dia de sua formatura em jornalismo.  Crédito: Reprodução/Instagram 

“Tem dias que penso que ela vai entrar pela porta fazendo 'palhaçada' como era acostumada. Ainda estou no processo de assimilar a partida dela”. Esse é o relato de Ana Maria Belém, mãe da jornalista paraense Thaís Belém, que faleceu há 8 meses, aos 28 anos, vítima de um tumor no cérebro.

Ana Maria é mãe de três filhos: Thaís, Thatiane e Thiago (nesta ordem). Para ela, o luto é sempre sofrido, e quando se trata de uma filha mais velha, como era Thaís, fica ainda mais difícil.

“O amor é igual para todos os filhos, mas a Thaís como primeira filha, me ensinou o verdadeiro sentido da palavra amor. Amor de mãe”, pontua.

Ana Maria Belém sendo carregada pelos três filhos: Thatiane, Thiago e Thaís (em memória).
Ana Maria Belém sendo carregada pelos três filhos: Thatiane, Thiago e Thaís (em memória). Crédito: Reprodução/Instagram

Ressignificar, ou seja, dar um novo sentido ao Dia das Mães, após a perda de um filho é um processo profundamente pessoal e íntimo, que envolve reconhecer e honrar a dor, enquanto se encontra significado e conforto em novas formas de celebrar a maternidade. É um caminho árduo de luto e resiliência, onde se busca encontrar forças para seguir em frente, honrando a memória do filho e celebrando a vida que continua.

O processo de superar o luto e dar um novo sentido a vida após a perda de alguém tão especial e marcante, envolve várias emoções que muitas vezes a pessoa pode deprimir.

A psicóloga Livia Santos ressalta que a perda de um filho é um dos momentos mais dolorosos e traumáticos que uma mãe pode vivenciar ao longo de sua jornada. A profissional explica que para ajudar a ressignificar a perda de um filho, é necessário reconhecer a importância e a história desse filho, buscando um novo propósito de compreender a vida que continua.

Psicóloga Lívia Santos
Psicóloga Lívia Santos Crédito: Arquivo Pessoal

“A mãe pode expressar de forma saudável a perda de um filho aceitando as emoções, buscando apoio, criando rotinas, cuidando da saúde física, se alimentando bem. Todas essas questões auxiliam a mente a funcionar melhor para lidar com essa dor”, explica a psicóloga.

Ana Maria destaca que perder um filho faz a mãe ter um novo olhar para a vida. Para ela, sua vida espiritual e os ensinamentos que aprendeu na igreja, serve de auxílio para lidar com a nova rotina sem a filha primogênita.

Na foto, Ana Maria Belém está abraçada a filha Thaís Belém que estava em tratamento contra um tumor no cérebro desde 2023.
Na foto, Ana Maria Belém está abraçada a filha Thaís Belém que estava em tratamento contra um tumor no cérebro desde 2023. Crédito: Reprodução/Instagram

“Com a partida da Thaís, aprendi a dar valor ao que realmente tem, Deus e familia, além disso, entendi que e nossa partida é o acontecimento mais importante das nossas vidas. Pela lei natural os pais querem ir primeiro que os filhos, mas para mim, Deus é o autor de nossas vidas e não podemos desperdiçar nosso tempo com coisas passageiras”, pontua.

Ainda de acordo com a psicóloga Lívia Santos, é importante e fundamental que a mãe após a perda um filho busque grupos de apoio em mães que já passaram pela mesma situação ou até mesmo um profissional para ajudar a entender e lidar melhor com esse processo.

Em datas como aniversário do filho que partiu e até mesmo o próprio Dia das Mães, a tendência é que a dor do luto se intensifique e é natural e até saudável, expressar esse sentimento, seja desabafando, escrevendo, ouvindo música, o que importante é se permitir expressa-lo até que chegue o momento em que essa dor se atenue.

“Sofro, mas não me desespero”

A mãe de Thaís Belém relata que os primeiros dias e meses após a perda de um filho são os mais sofridos. Ela conta que entende que tudo que aconteceu com a filha “já tinha a permissão de Deus”.

“O sofrimento aos pouco vai dando lugar a saudade. Eu sofro, mas não me desespero, pois sei que eu tenho um Deus que me ama e cuida de mim, me fazendo entender que a morte não é o fim, sigo lutando e esperando o grande dia: O dia de reencontrar a minha filha”, finaliza.

Aceitar a partida e dar um novo sentido a vida

Lívia Santos conclui explicando que diferentemente do que se imagina, as fases do luto não são lineares e existem estágios que não acontecem em apenas uma ordem. Os estágios da negação, da raiva, da barganha, da depressão e da aceitação podem aparecer em momentos diferentes.

Independentemente da ordem, a aceitação é o estágio final do luto, no qual a pessoa começa a se adaptar à nova realidade sem a presença do ente querido.

Mas não significa que a mãe, nesse caso, esqueceu ou superou completamente a perda, mas sim que está aprendendo a viver com a ausência de alguém que marcou para sempre o coração dessa mãe.