Família denuncia morte de grávida e bebê em hospital público de Belém: 'forçaram a ter normal'

Verônica morreu um dia após completar 26 anos. Relatos de funcionários do hospital indicam possível rompimento de apêndice.

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Talytha Reis

Repórter / [email protected]

Publicado em 23 de julho de 2025 às 12:15

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Reprodução Crédito: Arquivo Pessoal da Família - Verônica Catarina no baby chá, na última segunda-feira 21. 

Uma jovem de 26 anos e sua bebê morreram de forma trágica após o que familiares denunciam como um caso brutal de negligência médica no Hospital Abelardo Santos, no Distrito de Icoaraci, em Belém. Verônica Carina teria chegado ao hospital com sintomas graves de infecção, mas, mesmo assim, teria sido forçada a um parto normal e não resistiu.

Registro de conversa, entre supostos funcionários do hospital e familiares da vítima, revelam que a paciente teve vômito fecal e chegou a desmaiar no banheiro antes de entrar em parada cardíaca. A família agora busca justiça.

“Forçaram um parto normal mesmo ela debilitada”, diz família

Segundo o relato do esposo de Verônica, Gabriel Santana Ferreira, a jovem deu entrada no hospital por volta da meia-noite da segunda-feira (22), com sintomas graves: diarreia, vômito, fraqueza e dores abdominais. Mesmo debilitada, foi mantida em observação e medicada com Tramal,indicado para o alívio da dor de intensidade moderada a grave.

A família afirma que Verônica não passou por avaliação médica detalhada, mesmo estando com 9 meses de gestação, e já tendo uma cesárea agendada para o dia 5 de agosto. “Ela começou a ter uma diarreia preta, com um cheiro forte. Relatamos isso à enfermagem, e nos disseram que era necessário esperar o médico chegar às 8h. Ela foi avaliada de verdade só às 14h, quando já estava extremamente fraca”, relatou o marido, visivelmente abalado.

Ainda segundo ele, os pedidos para que Verônica fosse operada foram ignorados. “Ela dizia que não estava mais enxergando. Depois, parou de responder. Me deixaram esperando do lado de fora, enquanto ela e nossa filha faleciam.”

Prints de supostos funcionários foram apresentados

Conversas que circulam nas redes sociais e foram repassadas à família por amigos indicam que o estado de Verônica já era conhecido entre os profissionais do hospital. Em mensagens de WhatsApp atribuídas a funcionários da unidade, é possível ler relatos chocantes:

“Ela tava vomitando fezes, com diarreia, tava com uma infecção grave.”

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Foto  Crédito: Divulgação

“Até que uma hora foi tomar banho e caiu já convulsionando. Foi pra sala vermelha já parada.”

“Começou a sair líquido preto da boca dela, podre. A gente acha que foi apendicite rompido.”

Em outro trecho, uma fonte afirma: “As residentes falaram que ela chegou com muita dor, e pediram só exame de urina. Nem fizeram exames mais complexos. Era visível que ela não tava bem.”

A amiga da família, Mayara Lopes, compartilhou o apelo:

“Era pra ser uma semana de alegria. No domingo foi o chá de bebê. Na segunda, o aniversário de 26 anos da Vera. E na terça, aconteceu essa tragédia. Só pedimos justiça.”

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Reprodução Crédito: Instagram

A família acusa a instituição de mentir nos documentos e no laudo médico.

“O que eles entregaram nem é laudo. Estão tentando contar uma história diferente da realidade para fugir da responsabilidade”, disse Gabriel Santana.

Pedido de justiça

O caso gerou forte repercussão nas redes sociais, com milhares de usuários pedindo investigação rigorosa e punição para os responsáveis. Familiares, amigos e ativistas organizam mobilizações para que o caso não seja esquecido.

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Foto Crédito: Divulgação

“Verônica era uma mãe amorosa, esposa dedicada, mulher de fé. Não merecia esse fim. Estamos devastados”, completou Mayara.

Nota Hospital Abelardo Santos

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informou que, conforme registrado em prontuário médico, a paciente deu entrada no Hospital Regional Dr. Abelardo Santos e foi prontamente avaliada pela equipe médica especializada e submetida a exames clínicos e laboratoriais. 

A Sespa lamentou o ocorrido e informou que uma equipe de apoio psicossocial e médica foi acionada para prestar assistência à família. Os corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para os procedimentos periciais.