Publicado em 26 de junho de 2024 às 09:38
Os povos indígenas ocupam cerca de 13% do território nacional, 724 áreas são definidas como territórios indígenas. Somando aproximadamente 900 mil pessoas, com 305 etnias diferentes e mais de 274 línguas. Com esses números, é esperado que eles tenham sua participação e representação na política paraense, porém, não é bem assim. Em alusão ao Dia dos Povos Indígenas, celebrado nesta quarta-feira, 19, o Portal Roma News produziu uma matéria especial sobre a importância da representatividade indígena na política do Pará.>
Segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), no Pará, o quantitativo de pedidos de registros de candidaturas nas Eleições Gerais de 2022 foi de 1.043 (928 aptas e 115 inaptas). Desse total, apenas três foram de indígenas. Considerando os dados de cor e raça, os três registros indígenas equivalem a 0,29% do total, um número muito abaixo em questão de representatividade na disputa política.>
Mas quantos indígenas fizeram parte da história da política paraense? Pouquíssimos. É o que conta a líder indígena e secretária dos Povos Indígenas do Pará, Puyr Tembé. 'Até o momento não há nenhum deputado indígena na história do Pará, AINDA'.>
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Puyr Tembé, do povo Tembé do Pará, é presidente da federação dos Povos Indígenas do estado, executiva da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira e também co-fundadora da Anmiga (Associação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade). >
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Os Tembé têm sido obrigados a conviver com centenas de famílias de posseiros em suas terras e sofrem os efeitos da atuação irregular de madeireiros, fazendeiros e empresários. Longe de se conformarem com essa situação, eles têm lutado pela desocupação de seu território e reivindicado seus direitos aos órgãos públicos.>
Para Tembé, a baixa representatividade indígena se trata de uma falta de conscientização política. 'A sociedade tem que começar a enxergar os povos indígenas como pessoas que constroem, que querem começar ajudar a construir um Pará melhor, que tenha um desenvolvimento que envolva de fato os povos indígenas, as populações tradicionais, a sociedade paraense. Enquanto não houver essa conscientização, vai haver de fato essa baixa representatividade. Isso só será possível se sociedade entender e dar oportunidade de ter esses legítimos representantes no estado', explicou.>
Ao ser questionada sobre de que forma os indígenas podem ser incluídos na política,Tembé foi precisa. 'A sociedade tem que começar a reconhecer os indígenas como protagonistas, como pessoas capazes de construir políticas públicas não só para seu povo, mas para todos. Os povos indígenas protegem a Amazônia e todos os biomas do país. Se nós temos uma Amazônia e biomas que fazem o país ter a diversidade que tem, que fazem a proteção do planeta é devido ao indígenas. Isso já é grande significado para a sociedade enxergar que a gente também sabe fazer política, também sabe proteger, que a gente também sabe cuidar e fazer', finalizou.>
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Ainda segundo Tembé, na Grande Belém não há registros de políticos indígenas em atuação, apenas no interior do estado como em Ourilândia do Norte e Jacareacanga.>
}} Beto Kayapó, vereador em Ourilândia do Norte>
Da tribo Kayapó, Beto é vereador pelo PSC, em Ourilândia do Norte, sudeste paraense. Com mais de 12 mil indígenas, o povo Kayapó, também conhecido como Mebêngôkre, habita e protege há décadas uma extensa área da Floresta Amazônica que se estende do norte de Mato Grosso ao sul do Pará. Há cerca de um século, porém, eles não eram os únicos Kayapó no Brasil. Por isso, eram chamados de Kayapó do Norte. >
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Já o município de Jacareacanga, é onde se concentra a maior população de indígenas aldeados no Pará. Da etnia Munduruku, eles representam quase a metade da população local e ocupam 156 aldeias espalhadas na terra demarcada em 2004.>
}}Giovani Kabá Munduruku, vereador e presidente da Câmara Municipal de Jacareacanga>
Da tribo Munduruku, Giovani é vereador e presidente da Câmara Municipal de Jacareacanga, no sudoeste paraense. Povo de tradição guerreira, os Munduruku dominavam culturalmente a região do Vale do Tapajós, que durante o século XIX era conhecida como Mundurukânia. >
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Hoje, suas guerras contemporâneas estão voltadas para garantir a integridade de seu território, ameaçado pelas pressões das atividades ilegais dos garimpos de ouro, pelos projetos hidrelétricos e a construção de uma grande hidrovia no Tapajós.>
Além de Giovani, Jacareacanga também tem outros vereadores indígenas, como Aleandro Karo Munduruku, Gerson Barbosa Manhuary Munduruku, Isaias Munduruku e Ivair Darie Karikafu.>
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}}E os indígenas pelo Brasil?>
Nas últimas eleições, cinco indígenas foram eleitos para a Câmara dos Deputados, são eles Célia Xakriabá (PSOL-MG) Juliana Cardoso (PT-SP), Paulo Guedes (PT-MG), Silvia Waiãpi (PL-AP) e Sônia Guajajara (PSOL-SP).>
O número de indígenas comparado com o total de candidatos registrados foi maior em 2022 do que nas últimas duas eleições gerais. Em 2014, os indígenas representavam apenas 0,32% do total. Em 2018, 0,46%. em 2022, eles foram 0,62% de todos os candidatos registrados.>
}}Primeira indígena a ocupar um cargo no ministério>
A deputada federal indígena e ativista Sônia Guajajara foi escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir a pasta do Ministério dos Povos Indígenas, pasta criada pelo novo governo.Por sua luta pelo reconhecimento dos direitos dos povos indígenas, em maio do ano passado, ela foi eleita pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. >
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Os Guajajara são um dos povos indígenas mais numerosos do Brasil. Habitam mais de 10 Terras Indígenas na margem oriental da Amazônia, todas situadas no Maranhão. Sua história de mais de 380 anos de contato foi marcada tanto por aproximações com os brancos como por recusas totais, submissões, revoltas e grandes tragédias. A revolta de 1901 contra os missionários capuchinhos teve como resposta a última 'guerra contra os índios' na história do Brasil.>
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