Inelegível no 2º maior município do Estado, Antônio Doido ainda responde denúncias no STF

A trajetória de poder, as operações que apreenderam milhões e tornaram o parlamentar inelegível até 2033

Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 16:20

Deputado Federal, Antônio Doido.
Deputado Federal, Antônio Doido. Crédito: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

A ascensão política de Antônio Doido, eleito deputado federal em 2022 com mais de 126 mil votos e apresentado como fenômeno eleitoral do MDB no Pará, entrou em colapso a partir do segundo semestre de 2024, quando operações da Polícia Federal expuseram um possível esquema de movimentação de grandes quantias de dinheiro em espécie ligado ao seu grupo político.

O caso ganhou repercussão após a prisão de um policial militar com R$ 5 milhões em espécie em Castanhal, às vésperas do primeiro turno das eleições municipais. Meses depois, em janeiro de 2025, um assessor do parlamentar foi flagrado com R$ 1,1 milhão, além de veículos – um deles blindado –, celulares e documentos. A repetição dos episódios levantou suspeitas de que se tratava de uma engrenagem estruturada para abastecer campanhas e comprar apoio político.

Diante do volume de recursos e de sua possível relação com o financiamento eleitoral irregular, a Procuradoria-Geral da República (PGR) acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o deputado, que possui foro privilegiado. Entre os crimes apontados estão:

• lavagem de dinheiro,

• corrupção de agentes públicos,

• manipulação de contratos financiados com recursos federais,

• financiamento ilícito de campanhas municipais,

• e uso de empresas do grupo político para movimentação de valores.

Segundo investigadores, contratos públicos firmados com prefeituras do Pará teriam sido utilizados para alimentar o ciclo de repasses, saques, transporte e distribuição de recursos. A suspeita é de que os episódios descobertos representam apenas parte das operações. Enquanto o cerco criminal avança, o parlamentar sofreu também um golpe decisivo no âmbito eleitoral. Em dezembro de 2025, a Justiça Eleitoral de Ananindeua declarou Antônio Doido inelegível por oito anos, por abuso de poder político e econômico na campanha municipal de 2024. A sentença considerou que ele usou emendas parlamentares, obras e ações sociais com caráter autopromocional, incluindo shows, sorteios e distribuição de cestas, para turbinar sua imagem em período eleitoral.

A decisão ressaltou que o uso sistemático e midiático de recursos públicos desequilibrou a disputa, violando os princípios da impessoalidade e moralidade administrativa. Com isso, mesmo sem ter disputado ou vencido o pleito em questão, o deputado foi penalizado e está impedido de concorrer até 2033.

A combinação entre investigação criminal e condenação eleitoral produziu forte desgaste político. Aliados estratégicos, antes beneficiados pelas redes de influência e distribuição de recursos, passaram a adotar distanciamento público, enquanto adversários buscam ocupar espaços de poder deixados pelo deputado em municípios onde ele exercia forte domínio.

No momento, Antônio Doido ainda não foi condenado criminalmente, mas enfrenta uma ofensiva judicial que abrange tanto seu núcleo político quanto aliados e familiares, que ameaça transformar seu nome em um dos principais exemplos recentes de queda por escândalos envolvendo abuso de poder e dinheiro público no Pará. O inquérito, baseado nas apreensões que somam R$ 6 milhões, tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). O Roma News tenta contato com a defesa do parlamentar.