Publicado em 1 de outubro de 2025 às 16:44
A falência da Brasil Bio Fuels (BBF S/A), decretada pela Justiça do Pará, marca o ponto final de um projeto que, por anos, foi apresentado como símbolo da energia renovável no Brasil. A empresa, que chegou a se consolidar como a maior produtora de óleo de palma da América Latina, mergulhou em uma crise sem precedentes, acumulando dívidas, deixando comunidades desamparadas e trabalhadores sem salários.>
O estopim para a decisão judicial foi a cobrança de uma dívida de R$ 483 mil da empresa Seteh Engenharia, não paga pela BBF. Diante da inadimplência e da ausência de bens apresentados para penhora, a 12ª Vara Cível e Empresarial de Belém concluiu que a companhia entrou em um estado de “insolvência caótica”, incapaz de honrar seus compromissos.>
“Os documentos revelam o estado de insolvência caótica em que mergulhou a parte requerida, demonstrando a fragilidade inconteste de sua estrutura financeira perante diversos credores”, destacou o juiz responsável pela decisão.>
A sentença determina ainda que a BBF não poderá alienar ou movimentar nenhum de seus bens sem autorização judicial. Um administrador judicial foi nomeado para assumir o controle da companhia, organizar a lista de credores e coordenar a arrecadação de ativos.>
Embora a ação da Seteh Engenharia tenha dado origem à falência formal, os problemas da BBF vinham se acumulando há anos. Estima-se que a empresa tenha deixado um passivo bilionário, distribuído entre bancos, fornecedores, prestadores de serviço e agricultores que haviam firmado contratos de parceria para o cultivo de dendê.>
Esses contratos, que em tese seriam uma fonte de renda sustentável para comunidades locais, se tornaram motivo de desespero. Agricultores relatam atrasos crônicos nos pagamentos, quebra de cláusulas contratuais e até abandono das colheitas, o que deixou plantações inteiras sem valor de mercado e famílias endividadas.>
Os reflexos também foram devastadores no mercado de trabalho. A BBF chegou a empregar milhares de pessoas direta e indiretamente em polos produtivos no Pará e em outros estados da Amazônia. Mas, com o agravamento da crise, a empresa iniciou demissões em massa, sem garantir o pagamento de verbas rescisórias e salários atrasados.>
Em apenas um dos polos, calcula-se que mais de 2 mil trabalhadores tenham sido dispensados, muitos deles sem qualquer indenização. Sem a renda, famílias inteiras em regiões isoladas foram empurradas para a vulnerabilidade social.>
As dívidas não são o único problema. Relatos publicados em veículos de imprensa denunciam que a BBF teria recorrido a fraudes contratuais e até boletins de ocorrência forjados para tentar desqualificar comunidades e fornecedores que cobravam na Justiça o cumprimento dos acordos.>
Produtores rurais e parceiros comerciais afirmam que a companhia utilizava cláusulas abusivas, atrasava repasses e, em alguns casos, simplesmente deixava de recolher a produção de dendê, gerando prejuízos irreparáveis. Há ainda denúncias de que a empresa teria recorrido a campanhas difamatórias contra credores, numa tentativa de intimidá-los e enfraquecer ações de cobrança.>
Na tentativa de ganhar tempo, a BBF ingressou com um pedido de recuperação judicial em São Paulo. A estratégia, porém, não foi suficiente. A Justiça do Pará determinou que o juízo de Belém tinha competência preventiva para analisar o caso, já que o processo de falência havia sido iniciado anteriormente.>
Assim, coube ao Judiciário paraense decretar oficialmente a falência, suspendendo todas as execuções contra a empresa e ordenando a comunicação imediata da decisão a órgãos públicos, varas trabalhistas e demais instâncias.>
O colapso da BBF vai além do aspecto empresarial. Ele expõe a fragilidade de um modelo que prometia geração de empregos, inclusão produtiva de comunidades tradicionais e energia limpa. Na prática, o rastro deixado é de calotes, contratos rompidos e milhares de famílias em situação de vulnerabilidade.>
A decisão judicial abre caminho para que credores, trabalhadores e agricultores apresentem seus créditos. Porém, diante da magnitude das dívidas e da deterioração da estrutura da companhia, especialistas avaliam que a maior parte dos débitos dificilmente será quitada.>
Enquanto isso, cresce a pressão por respostas. Sindicatos, associações rurais e fornecedores exigem que os responsáveis sejam cobrados judicialmente e que haja algum tipo de reparação para as comunidades impactadas.>
A BBF se apresentava como protagonista de um modelo sustentável de energia renovável baseado no dendê. O discurso atraiu investimentos e credibilidade, mas a realidade mostrou-se bem diferente: atrasos salariais, dívidas bilionárias, descumprimento de contratos e acusações de práticas abusivas.>
A falência decretada não apenas encerra o ciclo da empresa como também deixa um alerta: a promessa de desenvolvimento sustentável na Amazônia não pode ser sustentada à custa de comunidades prejudicadas, agricultores endividados e trabalhadores desamparados.>
No fim, o que resta da BBF é o símbolo de um colapso empresarial que se sobrepôs ao discurso ambiental e social, transformando uma promessa de futuro verde em um caso de descrédito e endividamento em larga escala.>
A Redação do Portal Roma News tenta contato com a empresa para obter esclarecimentos sobre as denúncias apresentadas.>
Redação Roma News.>