Mistura de produtos de limpeza leva a internações no Pará e pode ser fatal

Combinar itens como água sanitária, álcool, desinfetantes e ácido pode gerar gases tóxicos. Em 2025, já houve nove casos de intoxicação no estado

Publicado em 3 de julho de 2025 às 10:05

Combinar itens como água sanitária, álcool, desinfetantes e ácido pode gerar gases tóxicos. Em 2025, já houve nove casos de intoxicação no estado
Combinar itens como água sanitária, álcool, desinfetantes e ácido pode gerar gases tóxicos. Em 2025, já houve nove casos de intoxicação no estado Crédito: Ana Cássia Sousa/Roma News

Misturar produtos de limpeza ainda é um hábito comum em muitos lares, mas essa prática pode causar sérios danos à saúde e até levar à morte. Só no Pará, foram registradas 31 internações por intoxicação química em 2023, 28 em 2024 e, apenas entre janeiro e abril deste ano, mais nove casos, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

As causas envolvem, principalmente, o contato com vapores e gases liberados por misturas perigosas de substâncias como água sanitária, vinagre, amônia e ácido muriático.

O professor de Química Marcelo Mota explica que o problema começa com a ideia equivocada de que “quanto mais produto, mais limpo”. Segundo ele, cada substância tem uma função específica e, ao serem combinadas, podem gerar reações extremamente tóxicas.

“Não é porque a água sanitária limpa de um jeito que o ácido vai limpar da mesma forma. Existem dois tipos principais de ação nos produtos: a reação química, que inativa bactérias, e a solubilidade, que retira sujeira como gordura. Quando misturamos produtos com base ácida, como o ácido muriático, com substâncias básicas, como o hipoclorito de sódio (presente na água sanitária), podemos criar novos compostos altamente tóxicos”, alerta.

Reação quase fatal

A mistura quase custou a vida do funcionário público Lucas Sousa. Ele foi internado após usar uma combinação perigosa de produtos para limpar o banheiro de casa.

Por volta das 18h, Lucas aplicou ácido muriático no piso, na pia e no vaso sanitário. Às 20h30, sem ter removido o produto anterior, jogou por cima uma mistura de água sanitária, sabão em pó e desinfetante. O resultado foi imediato. “Não demorou cinco minutos e comecei a tossir muito, depois fiquei tonto, com ânsia de vômito e com dificuldade para respirar. Saí do banheiro, mas mesmo assim não melhorou”, relembra.

Apesar de a porta estar entreaberta e o banheiro ter janela, a ventilação não foi suficiente para evitar a intoxicação. Lucas foi levado ao hospital com queda na saturação e alterações na frequência cardíaca. Após duas horas em observação, recebeu alta.

Inalar produtos químicos pode causar inflamações severas nas vias respiratórias e o risco é ainda maior para pessoas com histórico de asma ou outras doenças pulmonares. Mesmo produtos comuns, como tintas e tinner, são capazes de desencadear inflamações graves quando inalados.

Misturas perigosas: veja o que evitar

O professor Marcelo Mota alerta para algumas combinações extremamente perigosas, que nunca devem ser feitas.

1. Água sanitária + álcool: pode gerar clorofórmio, substância altamente tóxica;

2. Água sanitária + vinagre: reação pode liberar gás cloro, potencialmente fatal;

3. Água sanitária + amônia, detergente ou desinfetantes com ácidos: risco de formação de compostos clorados perigosos.

“Jamais acredite que misturar produtos vai potencializar a limpeza. Na verdade, a eficácia pode diminuir e ainda colocar sua vida em risco. O ideal é sempre diluir os produtos em água e utilizá-los em locais bem ventilados, seguindo as recomendações dos fabricantes”, orienta Marcelo.