Morre aos 94 anos Carmen Vale, última testemunha da Operação Prato em Colares

Agricultora, que ganhou notoriedade após relatar ataques do fenômeno “chupa-chupa”, foi lembrada recentemente em reportagem do Portal Roma News.

Publicado em 6 de setembro de 2025 às 21:10

Morre aos 94 anos Carmen Vale, última testemunha da Operação Prato em Colares
Morre aos 94 anos Carmen Vale, última testemunha da Operação Prato em Colares Crédito: Reprodução

A agricultora Carmen da Conceição Vale, uma das principais testemunhas da chamada Operação Prato, faleceu na madrugada deste sábado (06), aos 94 anos, em Colares, no nordeste do Pará. Considerada a última sobrevivente dos episódios investigados pela Força Aérea Brasileira (FAB) na década de 1970, Carmen voltou a ganhar destaque recentemente após ser lembrada em uma reportagem do Portal Roma News, no quadro Fiquei Cabreiro.

Segundo familiares, ela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) há cerca de uma semana, entrou em coma e não resistiu. “Ela era super lúcida até poucos dias antes. Partiu nesta madrugada”, relatou a neta, a biomédica Simara Vale, de 43 anos.

Na década de 1970, Carmen relatou ter sido vítima direta do fenômeno conhecido como “chupa-chupa”, luzes que sobrevoavam Colares e arredores, provocando sintomas como queimaduras, anemia e fraqueza. Ela contava que estava deitada com uma neta pequena quando uma claridade intensa atingiu seu braço, deixando-a paralisada. O contato da criança teria interrompido a ação.

Os episódios chamaram a atenção da FAB, que enviou militares para investigar. A chamada Operação Prato produziu centenas de páginas de documentos e dezenas de horas de gravações. Parte desse material só foi liberado em 2004, sem explicação oficial para os fenômenos.

Legado e memória

Moradora da vila de Ariri, Carmen dedicou a vida à agricultura, criando três filhos e mais de dez netos. Mesmo analfabeta, tornou-se referência histórica ao narrar os acontecimentos da Operação Prato para jornalistas, estudiosos e até pilotos que buscavam compartilhar experiências semelhantes.

“Ela era um patrimônio vivo. As pessoas iam até a casa dela para ouvir os relatos, porque sabiam que ela era uma das últimas testemunhas da época”, afirmou Simara.

Embora Colares tenha ganhado projeção nacional, a comunidade nunca recebeu reconhecimento oficial. “Ela sempre sonhou que a vila fosse valorizada, mas isso nunca aconteceu”, lamentou a neta.

O caso continua despertando curiosidade até hoje. Em 2025, o Portal Roma News revisitou os relatos da Operação Prato no quadro Fiquei Cabreiro, relembrando a relevância histórica de Carmen e reforçando a importância de preservar a memória das testemunhas.

Para Simara, o maior legado da avó é a força de quem viveu profundamente a história de Colares. “Quero que ela seja lembrada como uma mulher que amava sua terra, que criou os filhos com bondade e que nunca deixou a memória da comunidade se apagar”, concluiu.