No Dia do Açaí, Pará celebra o valor nutricional, cultural e econômico do “ouro negro da Amazônia”

Fruto símbolo do Pará alia benefícios nutricionais, consumo cultural e geração de bilhões para a economia, consolidando-se como o “ouro negro da Amazônia”.

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Jorge Mateus

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Publicado em 5 de setembro de 2025 às 17:19

No Dia do Açaí, Pará celebra o valor nutricional, cultural e econômico do “ouro negro da Amazônia”
No Dia do Açaí, Pará celebra o valor nutricional, cultural e econômico do “ouro negro da Amazônia” Crédito: Carlos Sodré/Agência Pará

Celebrado nesta sexta-feira (5), o Dia do Açaí é uma data que vai muito além da homenagem a um fruto típico. No Pará, o açaí é sinônimo de identidade cultural, segurança alimentar e fonte de renda para milhares de famílias. Conhecido como o “ouro negro da Amazônia”, o fruto é consumido diariamente por milhões de pessoas, movimenta uma cadeia econômica robusta e tem ganhado cada vez mais espaço no mercado internacional.

Alimento funcional e aliado da saúde

Do ponto de vista nutricional, o açaí se destaca por seus benefícios à saúde. Segundo a nutricionista Samantha Soares, o fruto é considerado um alimento funcional, rico em antioxidantes e com propriedades que contribuem para a prevenção de doenças crônicas. “O açaí é rico em antioxidantes, principalmente as antocianinas, que ajudam na saúde cardiovascular, têm efeito anti-inflamatório e contribuem para a saúde intestinal. Além disso, por reduzir o estresse oxidativo, pode até ajudar na prevenção de doenças crônicas”, explica.

Um ponto que chama atenção é o valor calórico do fruto em sua forma natural. “Muita gente associa o açaí a um alimento altamente calórico, mas isso não é verdade quando falamos do fruto puro. Em 100 gramas, ele tem em média 60 calorias, o que é considerado baixo. O problema são os adicionais, como açúcar, xaropes, farinhas ou complementos muito energéticos, que podem alterar o valor nutricional e torná-lo mais calórico”, alerta Samantha.

Para pessoas com diabetes, o consumo deve ser feito de forma equilibrada e preferencialmente sem adição de açúcares, justamente para não comprometer o índice glicêmico. “O açaí pode, sim, estar presente na dieta de diabéticos, desde que seja consumido de forma natural, sem complementos que elevem a glicemia. Nesses casos, ele pode ser um aliado, e não um vilão”, ressalta a nutricionista.

O açaí na economia do Pará

No campo econômico, o açaí é uma das commodities mais importantes do Pará. Dados do DIEESE/PA mostram que apenas no primeiro semestre de 2025 a exportação do fruto, especialmente para o mercado norte-americano, movimentou cerca de R$ 320 milhões, com mais de 15 mil toneladas exportadas.

O supervisor técnico do órgão, Everson Costa, destaca que a cadeia produtiva do açaí gera emprego, renda e projeta a Amazônia para o mundo. “A importância do açaí para os paraenses, para a economia, para a tradição e a cultura é imensurável. Estimamos mais de 1.000 empregos formais e um impacto indireto que alcança cerca de 300 mil pessoas. Isso envolve ribeirinhos, cooperativas, batedores de açaí da Grande Belém — que já são mais de 15 mil —, além dos entregadores e toda uma rede de serviços ligada ao fruto”, explica.

Segundo ele, o açaí é mais do que um produto de exportação: é também uma vitrine da cultura amazônica. “O açaí leva o modo de vida paraense para o mundo. É talvez a fruta amazônica que mais representa a nossa identidade, porque está no prato do dia a dia, mas também é consumida como produto industrializado em outros países. Por isso, é fundamental que o Estado invista em políticas públicas de fomento, pesquisa, fiscalização e incentivo, para que essa cadeia continue forte e sustentável”, reforça.

Cultura e tradição

Seja no almoço, acompanhado de peixe frito, camarão ou farinha d’água, ou ainda em versões mais doces e industrializadas, o açaí é parte da vida de quem mora no Pará. Para muitos, é impossível imaginar a mesa paraense sem o fruto que se tornou símbolo da região.

Além de garantir renda para milhares de famílias, o açaí também é atração turística. Visitantes que chegam a Belém ou ao interior do estado sempre buscam experimentar o fruto “do jeito paraense” — fresco, batido na hora, em cuias, e servido de forma salgada, ao contrário do que ocorre em outras regiões do Brasil e do mundo, onde o açaí ganhou fama como sobremesa ou energético.

No Dia do Açaí, a celebração é dupla: da riqueza cultural e nutricional que o fruto carrega e do impacto socioeconômico que ele representa para o Pará e para o Brasil. Mais que um alimento, o açaí é um patrimônio vivo da Amazônia, que sustenta famílias, fortalece tradições e coloca a região no mapa do comércio internacional.