Paraense morre após contrair raiva humana no Amapá; é o terceiro caso no Brasil em 2025

Ele estava internado há duas semanas na UTI do Hospital Universitário Barros Barreto, em Belém.

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Silmara Lima

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Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 17:31

Hospital Universitário Barros Barreto, em Belém.
Hospital Universitário Barros Barreto, em Belém. Crédito: Reprodução

Nesta quarta-feira (3), morreu o paraense Matheus Santa Rosa dos Santos, de 24 anos, após contrair raiva humana na região de Oiapoque, no Amapá. Ele era natural de São Caetano de Odivelas, no nordeste paraense, e estava internado há duas semanas na UTI do Hospital Universitário Barros Barreto, em Belém, unidade de referência no tratamento de infecções. É o terceiro caso da doença no Brasil este ano, segundo o Ministério da Saúde.

Após a morte, o corpo de Matheus foi encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO), da Polícia Científica do Pará, no bairro do Mangueirão, em Belém. Nesta quinta-feira (4), a Secretaria de Saúde do Pará (Sespa) informou que realizou a necropsia e liberou o corpo, com coleta de amostras biológicas enviadas ao Laboratório Central (Lacen/PA) para análise complementar sobre possível presença e variantes do vírus da raiva.

Ainda nesta quarta, ele foi conduzido para São Caetano de Odivelas, e o seu sepultamento ocorreu nesta quinta.

Entenda o caso

A Secretaria de Saúde do Amapá (Sespa), Matheus foi atacado por um macaco enquanto pescava na região do Cabo Orange, área de manguezal no município de Oiapoque, extremo norte do estado. O ataque resultou em uma mordida na cabeça, uma exposição classificada como de alto risco para transmissão da doença. Dias depois, Matheus apresentou sintomas clássicos da raiva humana, como hidrofobia, agitação e dificuldade para engolir, sinais associados à rápida evolução da doença, que atinge o sistema nervoso central, seguidos de encefalite viral.

Ele foi transferido para um hospital de referência no Pará, e após exames laboratoriais realizados pelo Instituto Pasteur, em São Paulo, confirmaram a presença do vírus da raiva por meio da técnica RT-PCR e biópsia. O sequenciamento genético identificou a variante viral AgV3, associada a morcegos hematófagos ou frugívoros.

A Superintendência de Vigilância em Saúde do Amapá (SVS-AP) informou que as análises reforçam a hipótese de transmissão ligada a morcegos, principais hospedeiros da variante encontrada. A secretaria acrescentou que equipes de saúde, laboratórios e órgãos ambientais foram mobilizados para conter riscos de contaminação e investigar o foco de transmissão na região onde ocorreu o ataque.

Histórico no Pará

Segundo a Sespa, não há registros de casos ou mortes por raiva humana no Pará entre 2023 e 2025. A Coordenação de Zoonoses estadual confirmou que o Amapá foi oficialmente notificado para adoção de medidas de controle e bloqueio epidemiológico, que é de competência das autoridades de saúde do estado onde ocorreu a exposição ao vírus.

Terceiro caso no Brasil

Em nota, o Ministério da Saúde disse que este é o terceiro caso de raiva humana no Brasil em 2025, e o primeiro na região Amazônica. Outros dois casos foram registrados nos estados do Ceará e Pernambuco, também relacionados a animais infectados com variantes silvestres do vírus (AgV3 ou C.Jaccus). No CE, uma paciente contraiu a doença após ser mordida por um sagui; já no PE, uma mulher morreu após infecção também por um sagui.

A pasta afirmou que mantém estoques estratégicos de soro e vacina antirrábica, apoia estados e municípios no atendimento pós-exposição e monitora continuamente as variantes de origem silvestre, predominantes atualmente no país. De acordo com os dados oficiais do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2025 foram registrados 50 casos de raiva humana no Brasil, sendo 24 causados por morcegos e nove por cães, o que evidencia que, mesmo com o controle da transmissão, a doença continua a representar risco em áreas remotas.

O que é a raiva humana

A raiva humana é uma doença viral quase 100% letal, causada por um vírus presente principalmente na saliva de mamíferos infectados, como morcegos, macacos, cães, gatos, raposas, bois e porcos. A transmissão ocorre por mordidas, arranhões ou contato direto com secreções infectadas.

Os sintomas aparecem entre dois e dez dias após o período de incubação do vírus e incluem febre, dor de cabeça, agitação e espasmos musculares.

Medidas de prevenção

O Ministério da Saúde alerta que a profilaxia pós-exposição continua essencial: após mordeduras ou arranhaduras de animais silvestres ou domésticos potencialmente transmissores, é necessário lavar bem a região com água e sabão e procurar imediatamente um serviço de saúde para iniciar o tratamento com soro e vacina antirrábica, disponíveis gratuitamente pelo SUS.

O caso reacende o alerta para populações que vivem ou atuam em zonas rurais, áreas de mangue, floresta ou fronteira com territórios silvestres como pescadores, ribeirinhos e trabalhadores em atividades extrativistas, reforçando a importância da vigilância constante, educação em saúde e disponibilidade de insumos para prevenção da raiva.

Sigilo médico

O Hospital Barros Barreto informou, em nota, que não divulga dados clínicos ou administrativos de pacientes, conforme a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O comunicado ressalta que todas as informações sobre o atendimento são repassadas apenas ao paciente ou aos familiares.