Pesquisa aponta que intoxicação por plantas domésticas cresce entre crianças

A constatação é de um levantamento realizado por estudantes do curso de Medicina

Publicado em 28 de outubro de 2025 às 17:50

Pesquisa aponta que intoxicação por plantas domésticas cresce entre crianças.
Pesquisa aponta que intoxicação por plantas domésticas cresce entre crianças. Crédito: Divulgação

Plantas ornamentais e medicinais, presentes em quintais e dentro de casa, estão entre as principais causas de intoxicação infantil no Brasil. A constatação é de um levantamento realizado por estudantes do curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Bragança.

Os acadêmicos cruzaram dados do Programa Nacional de Informação sobre Plantas Tóxicas, integrado ao Sistema Nacional de Informações Toxicológicas e Farmacológicas (SINITOX) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), que registraram 8.715 casos de intoxicação entre os anos de 2014 e 2023 em todo o país.

Pela pesquisa, o dado mais preocupante é o perfil das vítimas: metade dos casos de intoxicação (50,1%) ocorreu em crianças de até 9 anos de idade, sendo que a faixa entre 1 e 4 anos responde por 32,4% das intoxicações. “É uma situação típica de acidentes domésticos. Crianças têm curiosidade natural e acabam ingerindo folhas, frutos ou flores dentro de casa, e isso ocorre sem que os pais percebam”, explica Diandra Luz, professora da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Bragança e orientadora da pesquisa.

A erva campeã dos registros de intoxicação é a popular comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia seguine), muito usada no tradicional banho de cheiro dos paraenses. Ela é responsável por 17,8% dos casos registrados. Outras espécies associadas às intoxicações foram tabaco (Nicotiana tabacum), aveloz (Euphorbia tirucalli), urtiga (Urtica dioica) e buchinha-do-norte (Luffa operculata).

A pesquisa acadêmica identificou que a maioria das intoxicações aconteceu dentro de casa (65,3%), seguida pelo ambiente de trabalho (12,8%). O caráter acidental foi predominante (65,1%).

Apesar da gravidade dos casos, o estudo mostra que a maioria das vítimas se recupera sem sequelas (86,2%). Houve, no entanto, 22 mortes confirmadas no período.

O estudante de Medicina da Afya, Guilherme Martins Gomes Fontoura, do 7º semestre, integra a equipe de pesquisa sobre intoxicação por plantas ornamentais e medicinais. Ele conta que o trabalho quer alertar a população para a escolha correta de plantas levadas para dentro das residências. “A presença de plantas ornamentais e medicinais vai além da estética. Elas fazem parte da nossa tradição e cultura, especialmente aqui na Amazônia, onde o uso popular é muito frequente. Mas essa prática, quando realizada sem orientação científica, pode expor a população a sérios riscos, principalmente crianças e idosos, mais vulneráveis a intoxicações”, explica.

O acadêmico destaca que muitas espécies possuem propriedades farmacológicas reconhecidas e podem ser utilizadas de forma segura como fitoterápicos. No entanto, o consumo inadequado de outras, em forma de chás, infusões ou até mesmo no uso culinário, pode provocar efeitos tóxicos graves.

Para o estudante, a participação na pesquisa reforça a importante conexão entre a universidade, ciência e comunidade. “Pesquisas como esta contribuem diretamente para a redução de agravos à saúde e para a promoção de práticas mais seguras no cotidiano da população. É um privilégio participar de um projeto que alia ciência, cultura e responsabilidade social”, completa Guilherme.