Quituteira que mudou a história da gastronomia paraense, completaria 100 anos nesta sexta-feira
No Dia Estadual da Culinária Paraense, conheça a trajetória da mulher que quebrou tabus, serviu o papa, virou notícia no New York Times e transformou pratos amazônicos em símbolo de prestígio nacional.
Publicado em 25 de julho de 2025 às 10:34
Neste 25 de julho, data em que Anna Maria de Araújo Leal Martins completaria 100 anos, o Pará celebra o Dia Estadual da Culinária Paraense, instituído pela Lei N.° 8.409/2016 em homenagem à mulher que transformou a gastronomia amazônica em patrimônio de orgulho e prestígio.
Neta do ex-governador, José Malcher, criada em um ambiente conservador, Anna enfrentou preconceitos ao decidir cozinhar profissionalmente. Em uma época em que ser quituteira não era visto com respeito, ela abriu caminho com coragem, talento e visão empreendedora.
Dona Anna, como era conhecida, começou cozinhando para sustentar a família e logo se destacou em Belém com seus banquetes. Em 1972, ao lado do filho Paulo Martins, inaugurou o restaurante “Lá em Casa” no porão do antigo Chalé Malcher, local que rapidamente se tornou referência na cidade. Foi ela quem elevou pratos como maniçoba, pato no tucupi e jambu à sofisticação — até então, eram vistos como comida “de casa” ou “de pobre”.
Com seu tempero e autenticidade, dona Anna conquistou reconhecimento nacional e internacional. Serviu o papa João Paulo II, quando ele visitou Belém em 1980, e foi destaque em meia página no New York Times. Sua cozinha dispensava temperos industrializados: usava alfavaca, cheiro-verde, pimenta de cheiro e muito conhecimento ancestral.
Sua trajetória inspirou filhos, netos e bisnetos. A neta, Daniela Martins, também chef, destaca o impacto da avó: “Ela quebrou tabus. Criou os três filhos com muito esforço e abriu caminhos para que hoje a nossa gastronomia tenha o respeito que tem”. O legado de dona Anna também vive no Festival Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, que retorna em setembro de 2025.
