Publicado em 26 de junho de 2024 às 07:35
Manoela Corrêa, aprovada em medicina na Universidade Federal do Estado do Pará (UFPA) campus Altamira, denuncia elitismo por parte da instituição. A estudante foi aprovada dentro do sistema de cotas PPI (pretos, pardos e indígenas), mas teve a solicitação indeferida.>
A estudante questiona o método utilizado pela banca de heteroidentificação da universidade, já que em outros anos foi aprovada pelo mesmo sistema em outros cursos. 'Minha situação é atípica, pois eu já cursei três faculdades na UFPA e quando vou tentar medicina, que é considerado um curso mais elitizado, sou indeferida. Foi a primeira vez que aconteceu. Pessoas que têm a pele mais clara que a minha passaram, inclusive no curso de medicina', afirmou.>
Em 2017, Manoela foi aprovada e cursou física. Em 2019, cursou engenharia química. Todos dentro do sistema de cotas PPI. Em 2021, Manoela passou no curso de enfermagem e foi aprovada pela banca. 'Passei em segundo lugar na minha cota. Tive que mandar um vídeo pra UFPA na heteroidentificação e foi aprovado', destacou a estudante.>
Os familiares da estudante estão indignados com a situação. 'Minha filha é parda e já estudava na UFPa por meio da cota racial. Agora, só porque passou em medicina estão dizendo que ela é branca. Muita injustiça. Por que será que do nada ela virou branca? Muito estranho', afirmou Darlene, mãe de Manoela.>
Há anos, a UFPa recebe esse tipo de acusação contra a banca de heteroidentificação. Em 2021, uma nota de repúdio por parte de estudantes, causou polêmica nas redes sociais devido a terem suas matrículas indeferidas no sistema de cota PPI. O grupo de estudantes acusou a universidade de fraude e procurou o Ministério Público para realizar as denúncias.>
Como funciona o Sistema de Cotas da UFPA>
Até 2020, a instituição adotava a autodeclaração como único critério para reconhecer o direito de estudantes negros. 'Com o crescimento de denúncias de uso indevido dessas vagas por pessoas não negras, fosse por desconhecimento do público a que se destinam a política, fosse intencionalmente (tentativa de fraude), a instituição passou a certificar a autodeclaração com apoio da Banca de Heteroidentificação', diz um comunicado emitido pela instituição na semana passada.>
A universidade menciona que pela Lei 12.711/2012, possuem direito às vagas reservadas pela cota racial: as pessoas negras de cor preta; as pessoas negras de cor parda e as pessoas indígenas e enfatiza que as pessoas pardas que têm direito ao uso de vaga da cota PPI são aquelas vistas como negras pela sociedade.>
Ainda segundo a instituição, a Banca de Heteroidentificação avalia o candidato tomando por referência exclusivamente o fenótipo social do estudante, como por exemplo a cor da pele, textura do cabelo, formatos do rosto, lábios e nariz e que lhes deixam vulneráveis às discriminações e ao racismo.>
'Diante de um indeferimento ao uso de vaga de cota racial, é oferecida ao candidato a possibilidade de heteroidentificação em uma segunda banca (chamada de recursal), que emitirá o parecer final a ser considerado no pleito', informa o texto.>
A Universidade também menciona que 'a Banca de Heteroidentificação foi julgada, em 2012, pelo Supremo Tribunal Federal, sendo considerada legítima para assegurar que se atinja o objetivo da ação afirmativa de incluir pessoas negras no ensino superior'.>
E continua 'as bancas são compostas por cinco pessoas, cuja diversidade de cor e gênero busca representar a diversidade da própria sociedade local. Todos os membros das bancas também participam anteriormente de oficina sobre a temática da promoção da igualdade racial e do enfrentamento ao racismo'.>
A UFPA encerra a nota dizendo que 'reitera seu compromisso com o combate à discriminação das pessoas negras, que resultou na exclusão sistemática dessa parcela da população do acesso a bens e direitos. A cota para pessoas negras visa contribuir para corrigir essa desigualdade, aumentando a representatividade desse grupo no seu corpo de estudantes, possibilitando a presença das pessoas negras em todos os espaços da nossa sociedade'.>
Sobre o caso de Manoela, o Portal Roma News aguarda o posicionamento da UFPA.>