Publicado em 8 de maio de 2025 às 19:14
Ainda que as políticas de equidade de gênero estejam avançando, pesquisas mostram que, para as mulheres, continuar no mercado de trabalho após a maternidade é um desafio. A economista e ganhadora do Prêmio Nobel Claudia Goldin identificou que os rendimentos das mulheres sofrem uma queda acentuada logo após o nascimento de um filho e essa redução se mantém por pelo menos uma década. >
No Brasil, um levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou que 35% das trabalhadoras com maior escolaridade deixam o emprego após o início da licença-maternidade, enquanto as mães com nível educacional mais baixo apresentam queda de 51%. >
“As desigualdades no mundo corporativo se acentuam quando a mulher decide ser mãe, porque é esperado que ela dedique mais tempo aos cuidados com os filhos. Existe o desejo de ser vista além da maternidade, mas as barreiras colocadas pelos empregadores as fazem ter de escolher”, explica Thaís Roque, escritora e especialista em carreira. >
Para Maria Eduarda Silveira, headhunter e sócia-fundadora da BOLD RHO, “mulheres que tiveram filhos recentemente desejam retomar suas carreiras com confiança e sem culpa. Entre os principais desafios enfrentados por esse público, estão a evasão de empresas após o período de licença-maternidade, pressão social , autocrítica e a disparidade salarial”. >
Para as mulheres que estão retornando ao mercado de trabalho após uma pausa, as duas especialistas sugerem algumas estratégias: >
É comum sentir que não consegue mais trabalhar como antes e, ao mesmo tempo, carregar a culpa por não estar o tempo todo com o filho. Esses sentimentos podem parecer contraditórios, mas são completamente normais. >
“O mais importante é ter paciência e lembrar que essa fase é passageira. Com o tempo, você vai se readaptar à rotina profissional e pode até passar a valorizar esses momentos fora de casa como um tempo para si mesma”, explica Thaís Roque. >
Se você já sabe que voltará ao trabalho nos próximos meses, o ideal é já começar a se preparar. “Atualize seu currículo, reúna materiais para o portfólio, se possível faça alguns cursos e volte a movimentar o LinkedIn . Deixe claro que está aberta a novas oportunidades”, orienta Maria Eduarda Silveira. >
No que diz respeito à rotina familiar, ela também recomenda planejamento: “O seu primeiro dia no trabalho não deve coincidir com o primeiro dia da criança longe dos pais”. >
Retomar a carreira após uma pausa pode ser desafiador e, muitas vezes, desperta sentimento de insegurança. No entanto, é essencial que as mães reconheçam as competências desenvolvidas durante a maternidade e como elas podem ser aplicadas no ambiente profissional . “Você passa a estabelecer melhor seus limites, adquire a habilidade de lidar com múltiplas tarefas e se torna muito mais resiliente. Todos ganham quando há uma mãe na equipe”, afirma Thaís Roque. >
Criadora de duas comunidades voltadas para empreendedoras, Thaís Roque afirma que “é muito comum encontrar mães em diferentes fases desse retorno, e ainda falamos pouco sobre o quanto essa etapa pode ser difícil”. >
Para a escritora, estar em comunidade tem um papel fundamental: oferecer um espaço seguro onde essas mulheres possam compartilhar vivências. “Conciliar tudo não é fácil, mas é importante reservar um tempo para conversar com outras mães que estão vivendo a mesma experiência”, reforça. >
Segundo Thaís Roque, é comum que, depois da maternidade, a mulher não sinta vontade de retornar ao mesmo trabalho de antes. “Muitas vezes, após se tornarem mães, as mulheres buscam mais flexibilidade e acreditam que empreender é a única saída, mas essa nem sempre é a melhor escolha: pode ser que um cargo corporativo com jornada reduzida faça mais sentido para o seu perfil”, explica. >
Para Maria Eduarda Silveira, além de reconhecer os esforços das mães que estão retornando ao mercado , é fundamental discutir as políticas de apoio oferecidas pelas empresas. “É importante implementar ações como reintegração gradual com realinhamento de metas, espaços adequados para amamentação, iniciativas voltadas à saúde mental e rodas de conversa sobre maternidade, todas medidas que contribuem diretamente para a retenção de talentos”, exemplifica. >
Por Mariana Felipe >