Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 14:49
A relação dos brasileiros com os animes começou muito antes de nomes como Demon Slayer ou Shingeki no Kyojin dominarem as redes sociais. Décadas antes disso, a TV aberta já preparava o terreno para uma febre que atravessaria gerações.>
Nos anos 1970 e 1980, títulos como Speed Racer, Zoran: O Garoto do Espaço e Super Dínamo chegaram tímidos ao Brasil. Eles ainda não tinham a força de uma comunidade estruturada, mas abriram caminho para algo maior. O ponto de virada veio em 1994, quando Cavaleiros do Zodíaco estreou na Rede Manchete e mudou tudo.>
O primeiro boom: quando Seiya encontrou o Brasil>
Cavaleiros do Zodíaco não foi apenas um desenho. Ele se tornou um ritual diário para crianças e jovens. Era o tipo de programa que parava a casa inteira, gerava conversas no recreio, estampava mochilas e influenciava brincadeiras nas ruas.>
Depois dele, a TV aberta descobriu um público gigantesco disposto a abraçar novas histórias japonesas. Era o início de uma febre que trouxe títulos como Pokémon, Yu Yu Hakusho, Sailor Moon, Super Campeões e, claro, Dragon Ball.>
A chegada de Dragon Ball e, depois, Dragon Ball Z, transformou de vez a cultura pop brasileira. A aventura de Goku uniu crianças, adolescentes e adultos, alimentou coleções, brincadeiras e até músicas que se tornaram parte da memória afetiva de milhões.>
Naruto, "fansubs" e a geração dos anos 2000>
Nos anos 2000, com a força menor da TV aberta e a demora para exibir novos episódios, a relação com os animes passou por outra transformação. Criaram-se fóruns, comunidades e grupos que legendavam episódios de forma amadora. Era a era dos "fansubs", que aproximou ainda mais os brasileiros desse universo e mostrou que existia uma demanda muito maior do que as emissoras imaginavam.>
Ao mesmo tempo, surgia um novo gigante cultural: Naruto.>
A jornada do ninja loiro marcou profundamente uma geração, criando um nível de identificação raro com temas como amizade, superação, dor e pertencimento. Essa conexão emocional seria um dos motores que sustentariam o crescimento dos animes nos anos seguintes.>
A explosão do streaming e o segundo boom>
Com a chegada da Netflix ao Brasil e a expansão do streaming, os animes ganharam uma nova casa. Obras como Death Note, Bleach, One Piece e Naruto passaram a estar disponíveis para qualquer pessoa, a qualquer hora, sem depender da TV.>
Durante a pandemia, esse cenário cresceu ainda mais. Com mais tempo em casa e a busca por histórias diferentes, o público brasileiro mergulhou no gênero como nunca antes. A demanda explodiu e o país se tornou um dos maiores consumidores de animes do mundo, atrás apenas de mercados gigantes como Japão, China, Estados Unidos e Índia.>
Nesse período, animes como Demon Slayer ocuparam o imaginário popular. A animação apresentou batalhas de impacto, personagens cativantes e uma estética visual impressionante que viralizou nas redes. Já Shingeki no Kyojin com sua narrativa intensa, política e imprevisível, conquistou jovens e adultos, ampliando de forma decisiva a diversidade do público.>
Por que o brasileiro se identifica tanto com os animes>
A força dos animes no Brasil vai além da estética ou das batalhas épicas. Há uma identificação emocional profunda com temas como:>
superação e esforço constante>
amizade verdadeira>
pertencimento e sofrimento>
humor simples e cotidiano>
dramas familiares>
sonhos impossíveis que se tornam possíveis>
Os animes tratam de sentimentos universais, mas fazem isso com intensidade e sensibilidade únicas. E o brasileiro, que cresce cercado de novelas, histórias de luta e personagens carismáticos, encontra nesses desenhos um tipo de narrativa que conversa naturalmente com seu repertório cultural.>
A paixão pelas aberturas e trilhas sonoras>
Outro elemento essencial dessa relação são as músicas de abertura. Desde Pegasus Fantasy, de Cavaleiros do Zodíaco, até os temas marcantes de Naruto, Dragon Ball, Attack on Titan e Demon Slayer, as aberturas dos animes se tornaram pequenos eventos emocionais.>
As músicas criam memória afetiva, tornam-se parte do cotidiano e são tão icônicas que até hoje embalam festas, eventos, academias e competições de cosplay. É impossível ouvir algumas notas de Cha-La Head-Cha-La e não ser transportado instantaneamente para um momento da infância.>
Comunidades, colecionáveis e grandes eventos>
O universo dos animes também movimenta mercados e cria laços sociais. Figuras colecionáveis, roupas temáticas, mangás, pôsteres e itens de decoração são consumidos com paixão. Eventos como Anime Friends lotam pavilhões e reúnem dezenas de milhares de pessoas. Cosplayers dedicam meses aos detalhes de seus personagens. Dubladores se tornam ídolos.>
É um ciclo contínuo: quanto mais os fãs consomem, mais o mercado investe, e quanto mais investe, mais produções chegam ao país.>
De Cavaleiros a Demon Slayer: uma paixão que só cresce, hoje, o Brasil está entre os maiores mercados de animes do mundo.>
Séries como Blue Lock, Jujutsu Kaisen, Chainsaw Man e Spy x Family dominam conversas nas redes sociais, enquanto clássicos como One Piece seguem conquistando novas gerações.>
Da nostalgia da TV Manchete ao catálogo infinito do streaming, os animes deixaram de ser um nicho para se tornarem um fenômeno cultural que move paixões, inspira comunidades e acompanha os brasileiros há mais de três décadas.>