Como os animes conquistaram o Brasil e viraram paixão nacional

Os animes ganharam espaço no Brasil muito antes das plataformas de streaming, formaram gerações nos anos 1990 e 2000 e hoje vivem um dos maiores momentos da sua história no país

Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 14:49

Os animes ganharam espaço no Brasil muito antes das plataformas de streaming, formaram gerações nos anos 1990 e 2000 e hoje vivem um dos maiores momentos da sua história no país
Os animes ganharam espaço no Brasil muito antes das plataformas de streaming, formaram gerações nos anos 1990 e 2000 e hoje vivem um dos maiores momentos da sua história no país Crédito: Reprodução

A relação dos brasileiros com os animes começou muito antes de nomes como Demon Slayer ou Shingeki no Kyojin dominarem as redes sociais. Décadas antes disso, a TV aberta já preparava o terreno para uma febre que atravessaria gerações.

Nos anos 1970 e 1980, títulos como Speed Racer, Zoran: O Garoto do Espaço e Super Dínamo chegaram tímidos ao Brasil. Eles ainda não tinham a força de uma comunidade estruturada, mas abriram caminho para algo maior. O ponto de virada veio em 1994, quando Cavaleiros do Zodíaco estreou na Rede Manchete e mudou tudo.

O primeiro boom: quando Seiya encontrou o Brasil

Cavaleiros do Zodíaco não foi apenas um desenho. Ele se tornou um ritual diário para crianças e jovens. Era o tipo de programa que parava a casa inteira, gerava conversas no recreio, estampava mochilas e influenciava brincadeiras nas ruas.

Depois dele, a TV aberta descobriu um público gigantesco disposto a abraçar novas histórias japonesas. Era o início de uma febre que trouxe títulos como Pokémon, Yu Yu Hakusho, Sailor Moon, Super Campeões e, claro, Dragon Ball.

A chegada de Dragon Ball e, depois, Dragon Ball Z, transformou de vez a cultura pop brasileira. A aventura de Goku uniu crianças, adolescentes e adultos, alimentou coleções, brincadeiras e até músicas que se tornaram parte da memória afetiva de milhões.

Naruto, "fansubs" e a geração dos anos 2000

Nos anos 2000, com a força menor da TV aberta e a demora para exibir novos episódios, a relação com os animes passou por outra transformação. Criaram-se fóruns, comunidades e grupos que legendavam episódios de forma amadora. Era a era dos "fansubs", que aproximou ainda mais os brasileiros desse universo e mostrou que existia uma demanda muito maior do que as emissoras imaginavam.

Ao mesmo tempo, surgia um novo gigante cultural: Naruto.

A jornada do ninja loiro marcou profundamente uma geração, criando um nível de identificação raro com temas como amizade, superação, dor e pertencimento. Essa conexão emocional seria um dos motores que sustentariam o crescimento dos animes nos anos seguintes.

A explosão do streaming e o segundo boom

Com a chegada da Netflix ao Brasil e a expansão do streaming, os animes ganharam uma nova casa. Obras como Death Note, Bleach, One Piece e Naruto passaram a estar disponíveis para qualquer pessoa, a qualquer hora, sem depender da TV.

Durante a pandemia, esse cenário cresceu ainda mais. Com mais tempo em casa e a busca por histórias diferentes, o público brasileiro mergulhou no gênero como nunca antes. A demanda explodiu e o país se tornou um dos maiores consumidores de animes do mundo, atrás apenas de mercados gigantes como Japão, China, Estados Unidos e Índia.

Nesse período, animes como Demon Slayer ocuparam o imaginário popular. A animação apresentou batalhas de impacto, personagens cativantes e uma estética visual impressionante que viralizou nas redes. Já Shingeki no Kyojin com sua narrativa intensa, política e imprevisível, conquistou jovens e adultos, ampliando de forma decisiva a diversidade do público.

Por que o brasileiro se identifica tanto com os animes

A força dos animes no Brasil vai além da estética ou das batalhas épicas. Há uma identificação emocional profunda com temas como:

superação e esforço constante

amizade verdadeira

pertencimento e sofrimento

humor simples e cotidiano

dramas familiares

sonhos impossíveis que se tornam possíveis

Os animes tratam de sentimentos universais, mas fazem isso com intensidade e sensibilidade únicas. E o brasileiro, que cresce cercado de novelas, histórias de luta e personagens carismáticos, encontra nesses desenhos um tipo de narrativa que conversa naturalmente com seu repertório cultural.

A paixão pelas aberturas e trilhas sonoras

Outro elemento essencial dessa relação são as músicas de abertura. Desde Pegasus Fantasy, de Cavaleiros do Zodíaco, até os temas marcantes de Naruto, Dragon Ball, Attack on Titan e Demon Slayer, as aberturas dos animes se tornaram pequenos eventos emocionais.

As músicas criam memória afetiva, tornam-se parte do cotidiano e são tão icônicas que até hoje embalam festas, eventos, academias e competições de cosplay. É impossível ouvir algumas notas de Cha-La Head-Cha-La e não ser transportado instantaneamente para um momento da infância.

Comunidades, colecionáveis e grandes eventos

O universo dos animes também movimenta mercados e cria laços sociais. Figuras colecionáveis, roupas temáticas, mangás, pôsteres e itens de decoração são consumidos com paixão. Eventos como Anime Friends lotam pavilhões e reúnem dezenas de milhares de pessoas. Cosplayers dedicam meses aos detalhes de seus personagens. Dubladores se tornam ídolos.

É um ciclo contínuo: quanto mais os fãs consomem, mais o mercado investe, e quanto mais investe, mais produções chegam ao país.

De Cavaleiros a Demon Slayer: uma paixão que só cresce, hoje, o Brasil está entre os maiores mercados de animes do mundo.

Séries como Blue Lock, Jujutsu Kaisen, Chainsaw Man e Spy x Family dominam conversas nas redes sociais, enquanto clássicos como One Piece seguem conquistando novas gerações.

Da nostalgia da TV Manchete ao catálogo infinito do streaming, os animes deixaram de ser um nicho para se tornarem um fenômeno cultural que move paixões, inspira comunidades e acompanha os brasileiros há mais de três décadas.