História da 'cobra-grande' vira curta-metragem

A produção foi filmada na semana passada, na Ilha do Combu e em Benevides, com a paraense Naieme como uma das protagonistas. 

Publicado em 23 de julho de 2024 às 16:27

Equipe do curta-metragem " Boiuna" 
Equipe do curta-metragem " Boiuna"  Crédito: Laís Teixeira 

As paisagens naturais da Ilha do Combu e o município de Benevides são cenário de “Boiuna”, curta-metragem livremente inspirado na narrativa indígena da cobra-grande. A obra tem roteiro e direção assinados por Adriana de Faria, que também é produtora executiva do filme ao lado de Tayana Pinheiro, e coprodução da Marahu Filmes. 

As filmagens ocorreram entre os dias 15 e 19 de julho. O elenco é formado principalmente por atrizes sem experiência prévia, como a jovem e talentosa Jhanyffer Santos. Conta ainda com o protagonismo da multiartista paraense Naieme e participação especial da atriz amazonense Isabela Catão, que esteve recentemente no Festival de Cannes, na França, pelo filme “Motel Destino”. 

A história gira em torno da volta de Jaque (Naieme) à ilha onde cresceu, depois de não conseguir emprego na capital. Na ilha, Mara (Jhanyffer Santos), sua filha adolescente, faz novas amizades, enquanto estranhos acontecimentos passam a rondá-las. Naieme conta como foi o processo para entrar na personagem. 

“Enquanto sou solar, alegre, falante, viajante, Jaque é fechada, não fala o que sente, é super protetora e projeta na filha seus medos e incertezas. E, no fundo, todas temos um pouco de Jaque; muitas compreenderemos suas ações e outras de nós, julgaremos. Mas o certo é que Jaque se empodera a partir da dor, sem se tornar vítima, mas assumindo o protagonismo e as rédeas de sua vida”, adianta Naieme. 

Há inúmeras versões da narrativa da Boiuna nas diferentes localidades do território nortista. Ora entidade espiritual, ora animal transfigurado em embarcação, o fato é que a Boiuna sempre está presente no imaginário amazônico. Adriana de Faria explica que o curta-metragem é uma leitura contemporânea dessa narrativa voltada para o cinema, utilizando-se da ficção para abordar um drama social. 

“Além de ser um ícone da nossa encantaria, a Boiuna também representa a fortaleza das mulheres e meninas amazônicas, em serem gigantes nos cursos da vida. O filme traz questões como amizade feminina e relação entre mãe e filha com todas as nuances que essas relações possuem.”, diz a diretora e roteirista da trama. 

A equipe é majoritariamente nortista com cerca de 40 profissionais do mercado audiovisual somente na pré e na produção. O curta segue agora para a pós-produção que envolverá também profissionais de outros estados. 

“Buscamos com essa obra a valorização e o reconhecimento do cinema da Amazônia como um cinema potente, de trabalhadores talentosos. O público vai conhecer a história de Jaque e Mara, e também a identidade paraense por meio de seus costumes. Isso só é possível em razão das vivências da própria equipe, que carrega a sua ancestralidade e a imprime no modo de fazer cinema também”, garante Adriana. 

“Boiuna” foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo e tem previsão de lançamento para 2025 em festivais de cinema nacionais e internacionais.  Roteirista e diretora paraense, Adriana de Faria desenvolve projetos documentais e ficcionais. “Cabana”, sua primeira ficção como diretora, foi premiada como “Melhor Curta” no Festival do Rio 2023 e indicada ao Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro 2024, além de passar por mais de 30 festivais. Também é criadora e roteirista da série de culinária “Sabores da Floresta”, que está na segunda temporada (GNT/Futura), e do cinco vezes premiado curta-metragem “Ari y Yo”, exibido em diversos países da América Latina.