No Marajó, Festival de Boi-Bumbá de Mestre Damasceno exalta tradição e acessibilidade

Salvaterra se prepara para uma grande celebração cultural no dia 13 de junho, liderada por um mestre que enxerga com o coração.

Publicado em 12 de junho de 2025 às 19:27

(Mestre Damasceno conta que são uns 15 a 20 dias de ensaio para colocar o búfalo-bumbá nas ruas.)
(Mestre Damasceno conta que são uns 15 a 20 dias de ensaio para colocar o búfalo-bumbá nas ruas.) Crédito: Foto: Guto Nunes 

“As crianças ficam ao meu redor, brincando, felizes. Isso me dá felicidade no coração, porque eu vejo que tem gente que vai querer continuar a fazer a brincadeira do boi”, afirma Mestre Damasceno, 71 anos, ao se referir a presença quase que garantida de crianças nas festas e apresentações que o artista da cultura popular realiza no município de Salvaterra, localizado na ilha do Marajó.

Dessa vez, a expectativa é que cerca de mil pessoas, entre crianças, adultos, moradores da ilha e turistas, compareçam ao 2° Festival de Boi-Bumbá de Mestre Damasceno que será realizado nesta sexta-feira (13), a partir das 17h. A atividade cultural será iniciada com um cortejo cultural, com saída da frente do Mercado Municipal (ao lado da Prefeitura), e percorrerá as ruas em direção à Casa de Mestre Damasceno, no Bairro do Caju. O festejo contará com cerca de 30 atrações, entre participações de bois, quadrilhas e grupos de carimbó. Além da apresentação do próprio mestre com o Búfalo Segredo das Meninas.

Também vai haver a participação do Baby Búfalo-Bumbá Sensibilidade, feito por Mestre Damasceno para o seu neto Davi Guilherme. O novo personagem é um afigurado junino com algumas deficiências físicas, que nasceu em 2023 para participar do Arraial do Búfalo-Bumbá de Mestre Damasceno. “O Baby Búfalo-Bumbá Sensibilidade nasceu sem pernas, só com uma orelha, chifre quebrado de um lado, rabo cotó e cego de um lado”, descreve Damasceno. “A minha vontade é que esse Búfalo-Bumbá, que ainda é um bebê, cresça ao redor do Davi, que vai fazer 5 anos, e o Búfalo vai fazer 3 anos. O Búfalo-Bumbá veio para dar um recado: nós, afigurados e pessoas com deficiência, temos o direito de estar onde quisermos e seguir o nosso próprio caminho”, complementa.

Mestre Damasceno conta que são uns 15 a 20 dias de ensaio para colocar o búfalo-bumbá nas ruas. Para ensaiar os personagens, organizar as marcações dos atores e o figurino, é preciso de auxílio com descrição das imagens para que o mestre possa realizar amplamente sua função de diretor da encenação. O festival, idealizado pelo mestre, é a realização de um sonho que ecoa há mais de cinco décadas. Desde que colocou o “Estrela de Ouro” nas ruas em 1973 - já como pessoa com deficiência visual - Damasceno trilha uma trajetória marcada por resistência, inovação e o compromisso de manter viva a festa que aprendeu com seu avô e seu pai, no Quilombo do Salvá.

Uma festa para todos

No percurso do cortejo cultural, bois-bumbás e brincantes darão vida à tradição que, durante anos, resistiu ao apagamento cultural. Mas a proposta deste festival é diferente: não haverá competição. Os grupos se apresentarão em clima de confraternização, em uma grande celebração do fazer coletivo.

O evento também é destaque por seu compromisso com a inclusão. Um espaço acessível com cadeiras reservadas, sinalização e apoio de duas monitoras (Juba e Thalita Neves) será disponibilizado para pessoas com deficiência, pessoas com mobilidade reduzida, idosos e gestantes. A Associação de Deficientes, Pais e Amigos de Salvaterra (ADPAS) apresentará o resultado das oficinas de construção de mini búfalos-bumbás, feito com material reciclado, realizada nos dias 03 à 05 de junho e que teve como facilitadora a professora Dayane Sales.

“Eu gosto do que faço. que é tentar fazer que o arraial vire tradição. O que eu mais gosto é trazer gente na minha cidade para ver o meu búfalo-bumbá”, finaliza o mestre.

Este projeto foi contemplado no Edital de Pontos e Pontões de Cultura II – Lei Paulo Gustavo e é uma produção do Ponto de Cultura Mestre Damasceno e da Gutunes Produções. Conta com apoio da Prefeitura de Salvaterra e da Henvil Transportes, com realização da Secretaria de Cultura do Pará - Secult / Governo do Estado, e do Ministério da Cultura / Governo Federal.

Programação

Cortejo Cultural: concentração às 17h, na frente do Mercado Municipal (ao lado da Prefeitura), no Centro, saindo às 18h em direção à Casa de Mestre Damasceno, no Bairro do Caju.

Festival no Terreiro do Mestre: às 19h, com apresentações de vários bois e búfalos-bumbás, mestres e mestras, e grupos de carimbó. Local: Primeira Rua, esquina com 11ª Travessa, Bairro Caju – Salvaterra/PA