Quinteto Caxangá leva chorinho a Vigia, Marajó e região bragantina

O grupo de musical Quinteto Caxangá, de Belém, inicia, neste domingo, um programa de apresentações no interior do Pará, chamado “Circulação Transamazônica”.

Publicado em 17 de setembro de 2025 às 17:06

Quinteto Caxangá leva chorinho a Vigia, Marajó e região bragantina.
Quinteto Caxangá leva chorinho a Vigia, Marajó e região bragantina. Crédito: Divulgação

Será uma entrega de eventos musicais previstos no projeto premiado pelo edital da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) gerido pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp).

Nas apresentações em 4 municípios, será executado o repertório do EP “Transamazônica", lançado em abril deste ano. A turnê começa em Vigia, neste domingo, dia 21, e seguirá para Quatipuru, na Região Bragantina e Soure, na Ilha do Marajó.

“A escolha dessas localidades se deu por conta das conexões do grupo com os agentes culturais e a produção musical que encontramos nesses locais” – diz Camila Alves, integrante do Quinteto Caxangá. A musicista acrescenta que, em Vigia, a conexão é com as bandas da cidade – tradicional berço de músicos. “Temos uma ligação com a cidade em virtude, também, de o clarinetista do grupo, João Marcos Palheta de Sousa, ser natural de Vigia, tendo iniciado a carreira na Banda Maestro Vale. João é um representante do legado da música sinfônica de Vigia, onde a comunidade já conta com 9 bandas musicais” – diz Camila, que toca violão de 7 cordas no Caxangá.

O projeto contempla uma oficina, em cada localidade; será “um momento de interação técnica com os músicos e estudantes locais, para troca de saberes e experiências de criação musical” – diz Sara Souza, violinista do grupo. Em Quatipuru, ela terá oportunidade de interagir com músicos rabequeiros integrantes da Marujada. Em Soure, o foco do Caxangá será o carimbó: “O Marajó é outra região cuja musicalidade é preservada por instrumentistas criativos, que precisam ser incentivados” – afirma a violinista.

TRANSAMAZÔNICA

O Quinteto Caxangá lançou o EP "Transamazônica" em abril deste ano, e agora cumpre com os termos do edital da PNAB administrado pela Fadesp.

O título do EP nasceu de nome popular da Rodovia Federal BR-230 - obra do governo militar, cujo projeto era interligar as regiões Nordeste e Norte. A Transamazônica inicia na cidade de Cabedelo (Paraíba) e, tomando o rumo do oeste, entra no Estado do Pará, seguindo para o Oeste. A obra nunca foi concluída.

As 4 faixas do EP são uma viagem pelos fluxos migratórios históricos de nordestinos para a Amazônia – questão que surge por meio da fusão musical das regiões amazônica e nordestina.

“O EP tem uma forte narrativa musical de muitas faces musicais que convergem entre si, conversam, e se proliferam em sonoridades com fortes identidades, revelando uma relação cultural que permeia tantos problemas sociais que, sem dúvida, agravaram-se com a rodovia.” – explica Camila Alves, justificando o título do EP.

O grupo Quinteto Caxangá utiliza elementos da música nordestina que historicamente influenciaram a música nortista, em meio a fluxos migratórios intensos desde o período da colonização, sobretudo nos períodos de exploração da borracha. Foi do Nordeste que veio a mão de obra para a produção do látex; os nordestinos, então chamados “soldados da borracha”, atraídos para a região em busca de melhores condições vida, o que não aconteceu. Com eles vieram elementos culturais fortes, como a música.

O álbum “Transamazônica” é composto de quatro faixas. Com arranjo de João Marcos Palheta, o trabalho contempla uma obra de dois compositores paraenses emblemáticos da música popular: Sebastião Tapajós e Antônio Carlos Maranhão, autores de “Navio Gaiola” – um marabaixo.

O EP tem ainda “Lundu Barroco” – composição de Sara Moraes, e de seu pai, Luiz Pardal; “Baião Gostoso”, de João Marcos Palheta (clarinete) e Camila Alves (violão). E a música de boi “Transamazônica”, obra também de autoria de João Marcos Palheta, Camila Alves e Igor Melo, com participação de Ronaldo Silva (Arraial do Pavulagem).

EM VIGIA

O “Caxangá” vai se apresentar em Vigia, neste domingo, 21, a partir das 19 horas, no Museu da cidade. Do repertório, além das 4 obras do EP, farão parte também obras de outros autores, inclusive clássicos do chorinho nacional.

Evento também previsto pela PNAB, na segunda-feira, 22, o Caxangá promove no Museu de Vigia uma oficina, com “roda de choro” aberta aos músicos locais, com participação do público, a partir das 15 horas.