Publicado em 27 de setembro de 2025 às 15:08
A enfermeira americana Andee Vaughan registrou o colapso do hospital Al-Quds, no sul da cidade de Gaza, em meio ao cerco das tropas israelenses e à intensificação da ofensiva terrestre na região.>
Duas semanas após o início da operação, clínicas e hospitais foram destruídos ou fechados, e as unidades restantes funcionam de forma precária, com escassez de medicamentos, equipamentos, alimentos e combustível, enquanto médicos lutam para manter pacientes graves vivos sob bombardeios e disparos de drones.>
Vaughan mostra explosões próximas ao hospital, corredores antes lotados agora vazios e a tentativa de manter vivos os dois recém-nascidos restantes da UTI neonatal. Ela segura um bebê de 13 dias enquanto explosões derrubam a frequência cardíaca da criança.>
"Eles acabaram de atingir o hospital novamente", narrou em um dos vídeos. Vaughan mostrou quartos destruídos, camas cobertas de cacos de vidro e colchões manchados de sangue. Ela se mudou para o porão por segurança. No dia seguinte, após sua saída, colegas relataram a aproximação de veículos militares israelenses ao portão sul do hospital.>
Na semana passada, o hospital Al-Quds, no sul da cidade de Gaza, removeu a maior parte de seus pacientes com a aproximação das forças israelenses. Um paciente com queimaduras graves em 40% do corpo foi deixado em meio aos escombros e orientado a procurar uma clínica por conta própria, segundo Andee, que atuava como voluntária no local.>
"É uma loucura", disse Vaughan em entrevista no mesmo dia em que também foi retirada. "Esse é o estado do sistema de saúde, que está sendo desmantelado deliberadamente", elatou.>
Situação crítica no hospital Al-Quds>
Com capacidade para 120 pacientes, o hospital abriga hoje apenas cerca de 20, incluindo dois bebês em terapia intensiva, além de 60 médicos, enfermeiros e familiares de pacientes que seguem refugiados ali.>
Vaughan, natural de Seattle, atua como voluntária da Associação Médica Palestina-Australiana-Neozelandesa desde julho e registrou em vídeo sua experiência em Gaza. As gravações, compartilhadas com a AP, mostram a precariedade da unidade: falta de água, eletricidade e oxigênio, cuja estação foi atingida por disparos israelenses.>
Israel afirma que a ofensiva na cidade de Gaza tem como objetivo destruir a infraestrutura do Hamas e libertar reféns capturados no ataque de 7 de outubro de 2023.>
O Exército israelense ordenou a evacuação da população local para o sul, alegando motivos de segurança. Na quinta-feira, o Crescente Vermelho Palestino, que administra o Al-Quds, afirmou que veículos israelenses cercaram o hospital, restringindo totalmente a movimentação de pacientes e funcionários, enquanto drones atiravam contra o edifício e arredores.>
Israel acusa o Hamas de utilizar instalações médicas para fins militares, mas apresentou poucas evidências. Autoridades de saúde e médicos negam. Questionado sobre a situação do hospital, o governo israelense não respondeu.>
Vaughan foi retirada do local na terça-feira, com outro médico, e se deslocou para o sul. "Meus colegas estão me mandando mensagens perguntando por que fui embora. Eles dizem que vão morrer", relatou.>
Apesar da ordem de retirada, centenas de milhares de palestinos permanecem na cidade de Gaza, que tinha cerca de 1 milhão de habitantes antes da ofensiva. Segundo especialistas internacionais, a região enfrenta fome generalizada.>
Israel bloqueou a passagem de ajuda humanitária pelo norte desde 12 de setembro. Grupos de socorro tentam levar suprimentos pelo sul, mas enfrentam estradas destruídas e restrições de movimento impostas pelo Exército israelense, segundo a ONU.>
Na última semana, ataques israelenses destruíram ao menos duas clínicas em áreas opostas da cidade, obrigaram o fechamento de um hospital infantil e de um centro oftalmológico, e forçaram a evacuação de um hospital de campanha jordaniano. A ONU informou que outras 27 unidades médicas foram fechadas em setembro.>
No hospital Shifa, o maior da cidade, quase 100 pacientes fugiram com a aproximação de tanques israelenses. Muitos médicos deixaram de comparecer ao trabalho. "O medo é real", disse Hassan AlShaer, diretor médico da unidade.>
Grupos de direitos humanos estimam que mais de 160 profissionais de saúde palestinos estavam detidos por Israel em fevereiro. O Exército afirma que as prisões seguem a lei e envolvem suspeitas de ligação com o Hamas.>