EUA e Rússia se reúnem em Abu Dhabi para discutir plano de paz na Ucrânia

A proposta prevê reconhecimento territorial russo completo e limitações militares para Kiev, com apoio financeiro russo via “arrendamento” de regiões estratégicas.

Publicado em 25 de novembro de 2025 às 11:29

EUA e Rússia se reúnem em Abu Dhabi para discutir plano controverso de paz na Ucrânia
EUA e Rússia se reúnem em Abu Dhabi para discutir plano controverso de paz na Ucrânia Crédito: Divulgação

Autoridades russas e norte-americanas aterrissaram em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, para avaliar um plano de paz para a Ucrânia. A comitiva dos Estados Unidos é liderada por Dan Driscoll, secretário do Exército, segundo reportagem da CNN e da CBS, e os debates começaram na noite de segunda-feira (24), com expectativa de retomada na terça (25).

A pauta central da cúpula é um esboço de acordo que pode transformar radicalmente a geopolítica do conflito: o plano inclui 28 pontos, segundo fontes diplomáticas, ainda não oficializado, mas que já reverberam com força em Kiev e Moscou.

Entre os aspectos mais sensíveis está a exigência de que a Ucrânia reconheça como russas Crimeia, Donetsk e Lugansk, além de manter sob controle russo partes estratégicas de Kherson e Zaporíjia, embora sem tornar esses territórios formalmente parte da Federação Russa. Em troca, a Rússia se comprometeria a abandonar ambições de novas anexações, pelo menos oficialmente.

O plano também prevê uma reconfiguração militar profunda: o exército ucraniano seria reduzido a 600 mil soldados, perderia armas de longo alcance e ficaria proibido de receber tropas estrangeiras. Além disso, prevê-se um arrendamento territorial, que daria à Rússia o direito de pagar pela administração das regiões ocupadas, mesmo mantendo autoridade militar.

No plano interno, a proposta exige uma reforma legal e social significativa: o russo se tornaria idioma oficial, novos parâmetros seria adotado para proteger minorias, e iniciativas conjuntas de educação seriam implementadas para combater “ideologias nazistas”. Ainda assim, a Constituição ucraniana mudaria para proibir a entrada do país na OTAN.

Outro ponto polêmico: seria decretada anistia total para todos os envolvidos na guerra, de ambos os lados, seguida por eleições nacionais a serem convocadas em até 100 dias.

A realização da reunião em Abu Dhabi segue encontro entre diplomatas americanos e ucranianos realizado em Genebra na semana passada, no qual foi discutido o roteiro inicial do acordo. Há relatos de que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pode visitar Washington ainda nesta semana para tratar dos termos finais com representantes dos EUA.

O plano, elaborado pelo enviado especial americano Steve Witkoff em negociação com o negociador russo Kirill Dmitriev, gerou críticas em Kiev, por impor concessões consideradas “humilhantes” para a Ucrânia. Para muitos analistas, trata-se de uma alternativa ousada, mas que exige contrapartidas importantes por parte de Moscou.

As negociações em Abu Dhabi representam uma tentativa diplomática ousada visando pôr fim a anos de guerra, mas o preço político e territorial para a Ucrânia pode ter implicações profundas para sua soberania futura.