Publicado em 6 de junho de 2025 às 07:36
Um estudo inédito publicado na prestigiada revista Nature acaba de revelar um fenômeno surpreendente no mundo da biologia: a carência de ferro durante a gestação pode provocar a inversão sexual de machos para fêmeas em mamíferos.>
A pesquisa foi liderada por cientistas japoneses da Universidade de Osaka e identificou, pela primeira vez, que um fator ambiental, no caso, a deficiência de ferro, pode interferir diretamente no processo de determinação do sexo biológico.>
Os pesquisadores observaram que, em fêmeas de camundongos com deficiência severa de ferro durante a gestação, embriões com cromossomos XY (ou seja, geneticamente machos) desenvolveram ovários em vez de testículos. Isso indica uma reversão sexual completa, algo que até então era considerado extremamente raro e associado apenas a mutações genéticas.>
Nos camundongos cujas mães tinham níveis normais de ferro, nenhuma alteração sexual foi observada, o que reforça a influência direta do ferro na ativação dos genes responsáveis pelo desenvolvimento dos órgãos sexuais masculinos.>
Ferro, epigenética e o gene Sry>
O gene-chave para o desenvolvimento do sexo masculino é o Sry, que precisa ser ativado para que os testículos se formem. A ativação desse gene depende de enzimas que, por sua vez, precisam de ferro para funcionar corretamente. Sem ferro, o gene Sry não é “ligado”, e o embrião XY acaba desenvolvendo características femininas.>
Esse estudo também destaca o papel da epigenética, um campo que estuda como fatores ambientais afetam a expressão dos genes, na determinação do sexo biológico.>
Implicações e limites>
Embora os resultados sejam claros em camundongos, os autores do estudo alertam que ainda não é possível afirmar que o mesmo ocorra em seres humanos. No entanto, o achado é um forte indicativo de que o metabolismo materno pode influenciar aspectos fundamentais do desenvolvimento fetal, como o sexo.>
Além disso, o estudo levanta questões sobre o impacto de deficiências nutricionais graves durante a gestação, especialmente em regiões onde a anemia ferropriva é comum.>
Um problema global>
A anemia por deficiência de ferro afeta quase metade das gestantes no mundo, segundo dados da OMS. No Brasil, a taxa é estimada entre 20% e 30%, com maior prevalência em mulheres de baixa renda e em áreas com acesso limitado a serviços de saúde.>
Essa condição pode causar fadiga, fraqueza, parto prematuro e, agora, possivelmente, alterações na determinação sexual do feto — um aspecto até então ignorado nas diretrizes de saúde pública.>
O estudo publicado na Nature e divulgado pela imprensa espanhola, como o jornal El Mundo, inaugura uma nova linha de pesquisa sobre como a nutrição materna afeta diretamente o sexo e o desenvolvimento dos filhos. Apesar de ainda estarmos longe de confirmar efeitos semelhantes em humanos, a descoberta reforça a importância da triagem nutricional e da suplementação de ferro durante a gravidez.>