Publicado em 29 de setembro de 2025 às 09:46
Mais de uma década depois da queda do Airbus A330 da Air France no Atlântico, as famílias das 228 vítimas ainda lutam por justiça. Nesta segunda instância, em Paris, a companhia aérea e a fabricante da aeronave voltam a responder na Justiça francesa pela acusação de homicídio culposo.>
O acidente ocorreu na noite de 31 de maio para 1º de junho de 2009, durante o trajeto entre Rio de Janeiro e Paris. Na ocasião avião perdeu sustentação após falhas nos sensores Pitot, que congelaram em pleno voo e comprometeram a medição da velocidade. O relatório final da BEA (agência de investigação aérea da França) concluiu que o erro humano diante de falhas técnicas em sequência foi determinante para a tragédia.>
Em 2023, o Tribunal Correcional de Paris absolveu Airbus e Air France, reconhecendo que houve falhas das empresas, mas sem comprovar o vínculo direto entre elas e a queda. A decisão foi contestada pelo Ministério Público, e o caso agora é reavaliado.>
As acusações recaem sobre diferentes pontos: a Airbus é apontada por não substituir sensores de velocidade mesmo após registrar defeitos, além de não alertar a Air France sobre os riscos. Já a companhia aérea é acusada de não treinar adequadamente os pilotos para lidar com esse tipo de pane em voo. Ambas negam responsabilidade.>
“Se esse processo não reconhecer a ligação entre falhas técnicas e a catástrofe, será o fim da noção de responsabilidade penal em acidentes aéreos complexos”, declarou Claire Hocquet, advogada de famílias de vítimas e viúva de um dos pilotos.>
Para parentes, o julgamento é mais do que simbólico. “Estou exausta após 16 anos de processo, mas aliviada por ver uma segunda chance de responsabilizar as empresas”, disse Ophélie Toulliou, que perdeu o irmão. Danièle Lamy, presidente da associação Entraide et Solidarité AF447, reforça que os problemas já eram conhecidos: “As sondas fabricadas pela Thalès não funcionavam bem após 10 mil horas de voo. As do AF447 estavam com 19 mil. Esse acidente estava anunciado”.>
As caixas-pretas, fundamentais para as investigações, só foram recuperadas dois anos após o desastre, a quase 4 mil metros de profundidade. O julgamento deve seguir até 27 de novembro. Caso condenadas, Airbus e Air France poderão pagar multa de até € 225 mil (cerca de R$ 1,4 milhão) cada, valor considerado simbólico, já que a maioria das famílias já foi indenizada financeiramente.>