Irã endurece posição contra Israel, eleva exigências e complica negociações no Brics

Diplomatas envolvidos nas negociações confirmam que a elaboração de uma declaração final conjunta, desta vez assinada por líderes políticos, tornou-se mais “complicada”

Publicado em 5 de julho de 2025 às 12:11

Os recentes ataques de Israel e dos Estados Unidos ao Irã tornaram ainda mais difícil a construção de um consenso entre os países do Brics. A delegação iraniana, presente na cúpula do grupo no Rio de Janeiro, não apenas passou a exigir uma posição mais contundente sobre a guerra e os bombardeios que sofreu, como também quer alterar a forma como o bloco se refere a Israel nos documentos oficiais.

Diplomatas envolvidos nas negociações confirmam que a elaboração de uma declaração final conjunta, desta vez assinada por líderes políticos, tornou-se mais “complicada”. O Irã, que acaba de ingressar no grupo, passou a pressionar por uma linguagem mais dura, próxima da usada oficialmente por Teerã, o que inclui evitar o uso do nome “Israel” e substituí-lo por termos como “entidade sionista” ou “regime sionista”.

A questão se agravou após os ataques que atingiram o programa nuclear iraniano, mataram cientistas e comandantes militares e afetaram até uma rede estatal de televisão. Para Teerã, as ações representam uma escalada sem precedentes. Por isso, o governo vê como prioridade política que o Brics condene explicitamente os ataques, algo que nem todos os membros aceitam.

O chanceler iraniano, Abbas Araghchi, está a caminho do Rio para tentar reforçar a pressão diplomática. A exigência iraniana tem influenciado também a discussão sobre o posicionamento do grupo em relação à causa palestina, outro ponto sensível, especialmente diante da proximidade de países como Índia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Arábia Saudita com Israel e os Estados Unidos.

No momento, três temas seguem sem consenso: o posicionamento do Brics sobre o conflito na Palestina, os bombardeios ao Irã e a proposta de reforma do Conselho de Segurança da ONU. Neste último ponto, o Brasil sofreu um revés na reunião de Kazan e tenta superar impasses internos do continente africano, que dificultam até a menção de um país africano como candidato a uma vaga permanente no Conselho. A oposição de Egito e Etiópia também inviabilizou o apoio explícito a Brasil e Índia.

Chancelarias presentes à cúpula apontam que o cessar-fogo entre Irã e Israel é considerado “instável”, o que reforça a tensão no debate. Parte das delegações resiste até mesmo a mencionar diretamente Israel e Estados Unidos, o que tem travado as conversas.

Curiosamente, o documento do Brics não deve citar o recente ataque da Rússia à Ucrânia, a maior ofensiva aérea desde o início da invasão, nem o novo conflito entre Índia e Paquistão. Ambos os casos tiveram menor peso nas negociações.

A declaração final dos líderes também abordará o aumento de tarifas comerciais no mundo, mas evitará citar nominalmente o ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Ainda assim, o grupo pretende dar um recado em defesa do multilateralismo com a presença de convidados criticados por Trump, como o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, e o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Além da declaração principal, o Brics deve divulgar três comunicados específicos sobre: Financiamento Climático, Parceria para Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas e Inteligência Artificial.

Com informações do Estadão Conteúdo