Senado chileno destitui ministro da Suprema Corte após escândalo envolvendo consórcio estrangeiro

Diego Simpertigue perdeu o cargo por negligência grave, em meio a acusações de favorecimento judicial e recebimento de benefícios indevidos.

Publicado em 24 de dezembro de 2025 às 12:01

Senado chileno destitui ministro da Suprema Corte após escândalo envolvendo consórcio estrangeiro
Senado chileno destitui ministro da Suprema Corte após escândalo envolvendo consórcio estrangeiro Crédito: Reprodução/Senado do Chile

O Senado do Chile aprovou, na noite de segunda-feira (22), a destituição do ministro da Suprema Corte Diego Simpertigue, ao confirmar uma acusação constitucional por grave negligência no exercício da função. A decisão encerra um processo iniciado na Câmara dos Deputados, que já havia dado aval unânime à denúncia na semana anterior.

O caso ganhou grande repercussão no país por envolver suspeitas de benefícios ilícitos recebidos por um magistrado da mais alta instância do Judiciário, além de relações impróprias com representantes de empresas interessadas em decisões judiciais bilionárias. Com a condenação política, Simpertigue torna-se o terceiro juiz da Suprema Corte afastado do cargo apenas neste ano, um fato inédito na história recente chilena.

As investigações apontam que o ministro manteve proximidade com advogados do consórcio Belaz Movitec, grupo chileno-bielorrusso que travou disputas judiciais com a mineradora estatal Codelco. Após decisões favoráveis da Suprema Corte, a empresa recebeu mais de US$ 17 bilhões da estatal. Simpertigue votou a favor do consórcio em julgamentos realizados em setembro de 2023 e março de 2024.

Pouco depois dessas decisões, o magistrado participou de um cruzeiro de dez dias pela Europa ao lado de Eduardo Lagos, um dos advogados do grupo empresarial, atualmente em prisão preventiva. A viagem também contou com a presença da esposa de Simpertigue. Registros anteriores indicam que, em abril de 2023, o juiz já havia realizado outro cruzeiro com os mesmos advogados, desta vez pelo Mediterrâneo, após uma decisão relacionada ao caso imobiliário Fundamenta.

O episódio passou a ser conhecido no Chile como o “Complô Bielorrusso”, simbolizando o entrelaçamento entre decisões judiciais, interesses empresariais e vantagens pessoais. Para os parlamentares, as evidências demonstraram quebra de imparcialidade e comprometimento da função jurisdicional.

Com a saída de Simpertigue, soma-se à lista de magistrados afastados em 2024, que inclui Ángela Vivanco e Sergio Muñoz, destituídos por outros motivos. A sucessão de impeachments reacendeu no país o debate sobre transparência, ética judicial e mecanismos de controle sobre a Suprema Corte, em um momento de forte pressão social por maior rigor institucional.