Publicado em 18 de setembro de 2024 às 09:38
Na última terça-feira, 17, um grande número de dispositivos de comunicação sem fio, usados por membros do grupo político-militar Hezbollah, explodiu de maneira simultânea, em um intervalo de poucos minutos, deixando 12 mortos e milhares de feridos, no Líbano, especialmente nos subúrbios ao sul de Beirute. Integrantes do governo libanês e do Hezbollah acusam Israel de realizar os ataques.
A onda de explosões durou cerca de uma hora. Entre os mortos, estão uma menina e dois integrantes do Hezbollah, segundo o grupo xiita. Imagens das câmeras de segurança de um supermercado em Beirute, registraram o momento de duas dessas explosões: uma de um homem que pagava suas compras no caixa e outra perto de uma bancada de frutas.
O embaixador do Irã no Líbano, Mojtaba Amani, foi um dos feridos pelas explosões. Segundo a embaixada, Amani sofreu ferimentos leves. A Cruz Vermelha Libanesa diz que mais de 50 ambulâncias e 300 equipes médicas de emergência foram enviadas para ajudar no socorro às vítimas. Testemunhas afirmaram que várias pessoas sofreram ferimentos na cabeça, nas mãos ou na região da cintura. O fato de o pager ter tocado antes da explosão pode ter induzido os usuários a se aproximarem ou manusearem os equipamentos.
Segundo informações do The New York Times o Hezbollah encomendou mais de 3 mil pagers da Gold Apollo, cuja sede fica em Taiwan, e emitiram um alerta antes da explosão, simulando uma mensagem real. A Gold Apollo, no entanto, informou que os aparelhos foram fabricados por uma empresa sediada em Budapeste. Os pagers foram produzidos pela BAC Consulting KFT, sediada na capital da Hungria. Os equipamentos foram distribuídos para membros do grupo extremista no Líbano, além de aliados no Irã e na Síria. O jornal "The New York Times" revelou que autoridades receberam informações sobre a operação, indicando que Israel implantou os explosivos em um lote de pagers encomendado pelo Hezbollah.
Segundo a reportagem, foi uma operação coordenada, em que uma carga explosiva com menos de 50 gramas foi colocada próxima à bateria, junto a uma espécie de interruptor. Isso possibilitaria que os pagers fossem detonados remotamente. Por volta das 15h30, pelo horário local (9h30, em Brasília), os equipamentos receberam uma mensagem que parecia ter vindo da liderança do Hezbollah. A mensagem "falsa", no entanto, ativou os explosivos.
Firas al-Abyad, ministro da Saúde do Líbano, informou, em entrevista coletiva, que doze pessoas morreram, devido às explosões, e mais de 2,8 mil ficaram feridas, 200 em estado grave. Os hospitais da região foram colocados em alerta máximo para receber os pacientes, além de pedidos emergenciais por doações de sangue. Pelo menos mil militantes e operativos do grupo teriam ficado gravemente feridos.
Segundo informações do jornal O Globo, a Chancelaria libanesa, assim como o conselho de ministros do país, "denunciou veementemente a agressão criminosa israelense que representa uma violação significativa da segurança e soberania libanesa”. Além disso, informaram que iniciaram contatos com os países envolvidos e com a ONU, para confrontá-los contra este crime que não conhece limites.
Após as explosões desta terça, o governo libanês pediu que todos os cidadãos que possuem pagers joguem os dispositivos fora imediatamente, segundo a agência de notícias estatal do Irã Irna. Um representante do Hezbollah, que falou à agência de notícias Reuters sob condição de anonimato, afirmou que a detonação dos pagers foi a "maior falha de segurança" a qual o grupo foi submetido desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023.
Os pagers foram um meio de comunicação móvel desenvolvido nas décadas de 1950 e 1960 que se popularizou durante as décadas de 1980 e 1990, antes do crescimento do uso de celulares. São pequenos aparelhos que utilizam sinais de rádio para receber alertas e pequenas mensagens transmitidas por uma central de chamadas. Diferentemente de celulares e outros dispositivos que utilizam internet e podem ser facilmente rastreados, os pagers são considerados mais seguros, confiáveis e difíceis de se rastrear. São utilizados por muitos profissionais da saúde e emergência, além do Hezbollah, por questões estratégicas.
Os conflitos entre Israel e Hezbollah se intensificaram com o início da guerra em Gaza, após uma série de ataques do Hamas no território israelense em outubro de 2023. O grupo libanês disparou mísseis contra o norte de Israel, tornando os ataques frequentes entre as partes.