Lula tenta conter resistência no Senado para assegurar Messias no STF

Irritado com o embate público, presidente avalia movimentos para reduzir tensão com Davi Alcolumbre, que articula contra a indicação do ministro.

Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 11:36

Presidente Luís Inácio Lula da Silva
Presidente Luís Inácio Lula da Silva Crédito: Agência Brasil

A semana começa com o Palácio do Planalto voltando suas energias ao Senado, onde a disputa pela vaga de Jorge Messias no Supremo Tribunal Federal ganhou novos contornos políticos e expôs o desgaste entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). A poucos dias da sabatina do indicado, marcada para 10 de dezembro, o governo busca uma estratégia capaz de diminuir a resistência do senador, que se tornou o principal foco de oposição à nomeação.

Alcolumbre não esconde o descontentamento. O senador esperava que Rodrigo Pacheco (PSD-MG) fosse o escolhido para o Supremo e, diante da decisão de Lula por Messias, passou a atuar intensamente para inviabilizar a indicação. No domingo (30), divulgou uma nota dura contra o que chamou de tentativa de setores do Executivo de insinuarem que divergências entre os Poderes poderiam ser superadas por “troca fisiológica” de cargos e liberação de emendas.

Na manifestação, Alcolumbre afirmou que a desmoralização de outro Poder representa um ataque não apenas à sua liderança, mas a todo o Legislativo. Ele reforçou que cabe exclusivamente ao Senado aprovar ou barrar o nome enviado ao STF, um recado direto ao Planalto no momento em que a base do governo ainda não consolidou votos suficientes.

A resposta veio poucas horas depois. Às 17h23, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, publicou mensagem afirmando que o governo mantém “o mais alto respeito” pelo presidente do Senado e negou qualquer intenção de reduzir a relação institucional a barganhas políticas. A troca pública de declarações evidenciou o tamanho do impasse.

Nos bastidores, auxiliares de Lula admitem que a situação exige gestos de conciliação, mas ainda não há consenso sobre qual caminho adotar. Entre as alternativas cogitadas, está uma reaproximação direta entre Lula e Alcolumbre, incluindo a possibilidade de o presidente entregar pessoalmente ao senador a carta formalizando a indicação de Messias ao STF. Embora o documento já tenha sido publicado no Diário Oficial em 20 de novembro, a entrega simbólica é vista como um gesto capaz de destravar a interlocução.

A ideia, porém, enfrenta resistência dentro do próprio governo. Interlocutores relatam que Lula está incomodado com o tom adotado por Alcolumbre e não pretende fazer movimentos que possam ser interpretados como recuo. Uma visita à Residência Oficial do Senado, por exemplo, é considerada improvável.

A realização de um encontro depende de uma articulação prévia complexa, que garanta um ambiente sem demonstrações de fragilidade e permita que ambos preservem capital político. Até agora, Alcolumbre não sinalizou disposição para abrir essa porta, nem publicamente, nem por meio de aliados.